Marta tem me consumido durante dias e noites. Há momentos em que preciso mandá-la embora, essa mimada.
A verdade é que estou apaixonado por Marta, e caso não a mate antes das 40 páginas, terei um romance.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Marta
Inverno de alguma data não muito precisa. Marta levanta-se com o corpo dolorido por ter dormido em posição fetal, por isso mais cansada do que quando se deitou à noite anterior. Já na cozinha, Marta reacende seu cigarro que mantém escondido na gaveta de talheres, há dois anos que ela adquiriu este hábito de fumar meio à noite e meio de manhã. Toma um gole de guaraná que a esperta, e segue rotina.
Marta possuía apenas vinte e dois anos, fumava há dez; começou por que achava elegante aquelas mulheres dos filmes. Fez faculdade de música, e era bem sucedida, tocava na orquestra estadual. Não era casada e nem tinha filhos. Morava sozinha, sem nem ao menos um gato para fazer-lhe companhia, e sua vida não era insuportável por todas essas suas não personagens adquiridas pelo tempo, quem sabe isso tivesse algum papel secundário, todavia o que tornava sua vida uma merda era aquela monotonia monocromática que ela tinha que aturar pela manhã.
Existe um breve momento, breve, mas que perdura o tempo exato para que tu percebas que deves procurar um novo caminho, revolucionário em essência, que o leve para mundos desconhecidos, românticos, colorido de vermelho de boca de menina nova e sensual ou de vermelho vestido-para-matar.
Marta abre a gaveta de seu guarda-roupa para pegar sua luva, o cheiro de naftalina, de tempo morto conservado a formol, entra por sua narina e a desestabiliza, por reflexo segura-se para não cair, porém, decide cair, solta em queda livre, pronta para se permitir existir. Momento impasse, passo ou me passa? Opta por passar.
Ela põe seu violão sobre as costas e abandona o violino, maldito instrumento que a conquistou pela estabilidade financeira em uma orquestra. Leva também algumas roupas, pouco dinheiro, iria ser artista de rua, viajar e viajar sem rumo certo, andarilho de praça mostrando o melhor que tem pelo o mínimo que os transeuntes têm a oferecer, quem sabe um prato de comida, uma parada repentina para ouvir o que ela tinha para tocar e cantar, isso já era maravilhoso, ter a atenção de alguém nesse mundo que tem pressa de tudo.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Parágrafo
Parágrafo
Sou dado as coisas assim prontas, como quando uma coisa alude a outra e tudo flui em harmonia; um futuro rodeado na ciranda que deita rodas gigantes em carrosséis, assegurando-me giros sem alturas. As coisas assim prontas surgem do meu anexionismo: o que me é compreensível é porque também me compreende, o resto ignoro; os que insistem, construo divisas e isolo.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Para controlar o tempo
Tudo se constrói em cima do tempo,
as horas vagueiam e continuam absolutas
os carros trafegam sob claridade ou escuridão
ora sim ora não numa verdadeira matemática;
escrever é uma forma inútil de ir contra,
vencer-lhe,
só através do sono e
no entanto ele não vem.
Fosse-me concedido algo,
pediria o eterno cansaço
para dormir eternamente,
perdi o gosto pelas coisas que não são novidades
e por não tê-las,
mantenho-me inerte.
Porque o tempo amiúde
fez que o homem percebesse que não existe
auge em nenhuma fase da vida,
a todo momento se morre, se perde,
o que estava aqui antes
o tempo deu um jeito de inibir.
*
Será preciso, para controlá-lo,
pressentir a hora exata.
O problema é que a hora exata
é também o limite,
ou se avança ou se retrocede
e saber em qual das direções se ganha ou se perde,
ou melhor, em qual caminho
se perderá menos
é a maior das tarefas.
*
Então,
não acredito que há um tempo certo para cada coisa
nem que estamos adiantados ou atrasados diante delas
nunca cheguei cedo ou tarde demais, também nunca
pressenti a hora exata, mas dou às costas a ele
e ajo.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Para reafirmar a poesia
Três pingos d’água.
Ao chão chegarão dois.
Para reafirmar a poesia
um se perderá no espaço.
Três estalos no telhado
reconhecerão dois gatos.
Para reafirmar a poesia
um será desconhecido.
Três batidas na porta
abrirão duas.
Para reafirmar a poesia
uma continuará fechada.
-Quando conquisto o mistério,
logo arranjo um jeito de deixá-lo
mudo.
Ao chão chegarão dois.
Para reafirmar a poesia
um se perderá no espaço.
Três estalos no telhado
reconhecerão dois gatos.
Para reafirmar a poesia
um será desconhecido.
Três batidas na porta
abrirão duas.
Para reafirmar a poesia
uma continuará fechada.
-Quando conquisto o mistério,
logo arranjo um jeito de deixá-lo
mudo.
domingo, 5 de dezembro de 2010
recapitulando I
Como me reaproximar de ti?
É a pergunta que me faço constantemente.
Penso em inúmeras possibilidades e destas
o que me resta é a idéia de lhe enviar
meus cabelos e unhas aparados via correio.
Parece sujo, mas estes são os pedaços que já não doem.
É a pergunta que me faço constantemente.
Penso em inúmeras possibilidades e destas
o que me resta é a idéia de lhe enviar
meus cabelos e unhas aparados via correio.
Parece sujo, mas estes são os pedaços que já não doem.
Ultimamente, tenho me dado ao luxo de não sofrer.
Vejo-te velho e tua velhice se reconhece em mim
como parte de algo que ainda virá a ser.
Um ponto de partida entre o sim e o perverso,
a negação e a subida no ônibus.
Reencontro-o porque me persegues.
Não te busco e mesmo assim
enches tua cesta e continuas freqüentando os mesmos lugares que eu.
Vejo-te velho, porque me é semelhante a todos os
rostos que me cruzam pelo centro da cidade.
Teu rosto é comum.
Tua beleza carrega um velho encarquilhado
cuspido de fumaça e cotidiano.
cuspido de areia e vento.
E isso tudo é retórica.
São os fatos que recobro todos os dias.
Aleatoriamente escolho músicas que me remetam a ti.
Seguro tua mão imaginária e a empurro por entre minhas coxas.
Logo a beijo – Sou teu príncipe.
Cavalgo num cavalo branco clichezado de pureza,
medievo e por isso sujo como a peste que por insalubridade matou.
Tu, tu te sujas em mim e disso tenho certeza.
Farejas-me a distância porque me queres constrangido,
picotando retalhos, fugindo de contrariedades recorrentes do acaso.
Tu já foste meu personagem,
atuou naquela peça sobre mocinhos que eram
na verdade vilõezinhos travestidos
que falavam contundentemente frases de impacto e
a platéia em frenesi, extasiava-se nos atos e os julgava
erroneamente: - Deveriam ficar juntos!
Também acho, assim como acho muita coisa.
Devíamos ficar juntos, entediando-se um com outro,
porque a liga do amor é o tédio.
Sem monotonia, desconsidera-se o conceito
Releio.
como parte de algo que ainda virá a ser.
Um ponto de partida entre o sim e o perverso,
a negação e a subida no ônibus.
Reencontro-o porque me persegues.
Não te busco e mesmo assim
enches tua cesta e continuas freqüentando os mesmos lugares que eu.
Vejo-te velho, porque me é semelhante a todos os
rostos que me cruzam pelo centro da cidade.
Teu rosto é comum.
Tua beleza carrega um velho encarquilhado
cuspido de fumaça e cotidiano.
cuspido de areia e vento.
E isso tudo é retórica.
São os fatos que recobro todos os dias.
Aleatoriamente escolho músicas que me remetam a ti.
Seguro tua mão imaginária e a empurro por entre minhas coxas.
Logo a beijo – Sou teu príncipe.
Cavalgo num cavalo branco clichezado de pureza,
medievo e por isso sujo como a peste que por insalubridade matou.
Tu, tu te sujas em mim e disso tenho certeza.
Ultimamente, uso o ultimamente como certeza de hoje.
picotando retalhos, fugindo de contrariedades recorrentes do acaso.
Tu já foste meu personagem,
atuou naquela peça sobre mocinhos que eram
na verdade vilõezinhos travestidos
que falavam contundentemente frases de impacto e
a platéia em frenesi, extasiava-se nos atos e os julgava
erroneamente: - Deveriam ficar juntos!
Também acho, assim como acho muita coisa.
Devíamos ficar juntos, entediando-se um com outro,
porque a liga do amor é o tédio.
Sem monotonia, desconsidera-se o conceito
Releio.
Procuro a imagem práxis que dê acesso a todos.
Reencontro.
Segundo Ato
Há uma porta onde todos transpassam.
A porta na qual nos perdemos racionalmente;
que entreaberta indaga, corrompe, permite.
A que ultimamente o reencontro intoxicado
de falsas perspectivas porque quando ela suspira
nos teus olhos, estremeces e absténs.
Pita às baforadas contínuas de teu cigarro
e na fumaça me ama.
Terceiro Ato
Perder-se de fato, é fácil.
Em certos momentos a vida me disse:
- Intoxique-se!
Fumo.
Estremeço.
Sigo.
-Apaixone-se!
Aqui estou.
Há uma porta onde todos transpassam.
A porta na qual nos perdemos racionalmente;
que entreaberta indaga, corrompe, permite.
A que ultimamente o reencontro intoxicado
de falsas perspectivas porque quando ela suspira
nos teus olhos, estremeces e absténs.
Pita às baforadas contínuas de teu cigarro
e na fumaça me ama.
Terceiro Ato
Perder-se de fato, é fácil.
Em certos momentos a vida me disse:
- Intoxique-se!
Fumo.
Estremeço.
Sigo.
-Apaixone-se!
Aqui estou.
Quarto Ato
Transponho e me acomodo ao teu lado.
Obviamente não o encontro, igualmente nem existes.
Mas te suponho e guardo em imagens surreais
que faço de ti, o mantenho preso em qualquer parte.
És merecedor de todas as crueldades e alegrias que comunico
Tinjo tudo isto com teu tom de pele perturbada
pois assim o entendo por completo.
Ralho meu corpo no teu,
pinto-me com tua cor puída nos punhos
e mancho teus lábios com palavras vagas,
porque me lês e nisto te reconheces,
negas, mas releva.
Transponho e me acomodo ao teu lado.
Obviamente não o encontro, igualmente nem existes.
Mas te suponho e guardo em imagens surreais
que faço de ti, o mantenho preso em qualquer parte.
És merecedor de todas as crueldades e alegrias que comunico
Tinjo tudo isto com teu tom de pele perturbada
pois assim o entendo por completo.
Ralho meu corpo no teu,
pinto-me com tua cor puída nos punhos
e mancho teus lábios com palavras vagas,
porque me lês e nisto te reconheces,
negas, mas releva.
recapitulando
Das dedicatórias escondidas
ou
Das dedicatórias que não lhe dediquei
ou
Ao meu amor
Das dedicatórias escondidas
perfilam-se nos lábios
e repousam.
Extremamente cautelosa
a confissão contida e paciente
convulsiona-se
e sobre teu ouvido
derrama-lhe o amor sutil e refinado
com bendita dose de acanho,
porque quem ama
enrubesce a face
e carrega em si um vermelho doído de ausência e prontidão.
ou
Das dedicatórias que não lhe dediquei
e foram muitas,
Mas todas foram possíveis poemas
em cada verso enrodilhava teu corpo
num lirismo absurdo
de te amo
te amo
te amo
te amo
ou
Ao meu amor
Amo
antes do primórdio
de te conceber como idéia de amor
antes das palavras indiscretas
que te disse uma vez.
Por que já te amava na suposição,
e na construção abstrata
te enchia de ares
lambia teus dedos sujos,
e no teu corpo dançava
pintado a vermelhão.
Com cinzéis te reinventava a grosso modo
te reproduzia esculpido em versos,
e na minha língua sibilava vontades
que forçosamente te serviam como passe
até mim.
ou
o poema tentativa
como na teoria do Big Bang
acumular-se-ia na ponta de um
alfinete
e recriaríamos o universo.
ou
- Eu sempre te amei
você só não tinha aparecido antes.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Mais que os artrópodes
"Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.Tudo que não fala, faz."
(adélia prado - amor feinho)
O meu amor é macérrimo e doido por sexo.
Carrega rosário nos domingos,
nos outros dias
faz a via crucis do meu corpo.
Não entrou na minha vida
arrombando portas,
tampouco pediu permissão.
Foi enrodilhando corpo
feito minhoca
corpo e terra
corpo e terra
corpo e terra
quando se percebeu
já estava com as raízes.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Os fora-da-lei
meu EU dedilha palavras,
corrompe parentescos
ao tentar liga
no teu sangue alheio.
e tudo em mim
confundido em ti
será impróprio em nós
e a seguir seremos
seqüestros
impiedades
contravenções.
corrompe parentescos
ao tentar liga
no teu sangue alheio.
e tudo em mim
confundido em ti
será impróprio em nós
e a seguir seremos
seqüestros
impiedades
contravenções.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Intento - II
Ser humano de rasgar-se
na incorporação,
de quase cuspir o santo
e resgatar a incoerência primitiva
do êxtase.
na incorporação,
de quase cuspir o santo
e resgatar a incoerência primitiva
do êxtase.
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o oco cheio de vazio
é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua nem o próprio gozo apree...
-
é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua nem o próprio gozo apree...
-
possibilidades poéticas do confinamento antes de sair de casa, não esqueça que ontem foram 4249. Brasil, 08 de abril de 2021. *4.249 mort...