segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mais que os artrópodes


"Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.Tudo que não fala, faz."
(adélia prado - amor feinho)


O meu amor é macérrimo e doido por sexo.
Carrega rosário nos domingos,
nos outros dias
faz a via crucis do meu corpo.

Não entrou na minha vida
arrombando portas,
tampouco pediu permissão.
Foi enrodilhando corpo
feito minhoca

corpo e terra
corpo e terra
corpo e terra

quando se percebeu
já estava com as raízes.

Estranho é pôr os sonhos sobre o mar ao invés do veio de rio próximo que você me assenta.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os fora-da-lei

meu EU dedilha palavras,
corrompe parentescos
ao tentar liga
no teu sangue alheio.
e tudo em mim
confundido em ti
será impróprio em nós
e a seguir seremos
seqüestros
impiedades
contravenções.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Intento - II

Ser humano de rasgar-se
na incorporação,
de quase cuspir o santo
e resgatar a incoerência primitiva
do êxtase.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A dúvida agora é o princípio do molde e do gesto. O primeiro corte umbilical se deu quando? Partiu da idéia de separar-se da cria? É como atirar em alguém, há uma bala, há um revólver, há um gatilho, há uma vítima e há um assassino, dito, há um homicídio. Antes de tudo isso, há um outro antes que supostamente já teria assassinado e esse é o início. Penso em matar, já matei, engatilho, estouro, mato. E não há nada o que se entender ou julgar. Escrever é tão primitivo quanto a própria idéia de primitivo, que talvez seja tão recente quanto Cristo. E foi Deus quem disse: sois primitivos, chimpanzés, ainda está na fôrma os verdadeiros humanos. Assim aceitaram e assim continuaram vivendo primitivamente. Depois disso vieram pomposos e evoluídos e humanos trucidar os chimpanzés porque neles não se reconheciam.

sábado, 16 de outubro de 2010

Intento

Dei ao desejo um pedaço de fita negra
e fiz feitiço na festa de santo.
Diziam-me:
teu corpo é Rei, dança...
lança pedra no fundo do poço,
liba a terra com pinga,
acende charuto,
pede benção
e sê terreno
que é de corpo
que Deus vive.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Hilda Hilst - SONETOS QUE NÃO SÃO

1

Aflição de ser eu e não outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
e à noite se prepara e se advinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha).
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
-blog em recesso-

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Adélia Prado

Sensorial

Obturação, é da amarela que eu ponho.
Pimenta e cravo,
mastigo à boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons para uma palavra só.
Espírito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meus seis instrumentos.
Fico gostando ou perdôo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.

- blog em recesso -

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sandra Heck

I

Noto
mas não anoto
por isso me esfolo
choro
Noto
mas não anoto

Anotaria
se quisesse terminar
fatos e atos
pra superar,
não quero findar
quero dúvidas pra continuar

Anotaria
se pudesse parar.

*Sandra Heck é uma poetisa da cidade de Blumenau - SC.
**Poema retirado do livro Blumenália Poética 2

-blog em recesso-

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...