segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Agora Entendo



“Que a vida é maior que o fato
A força maior que o ato”
(Autor desconhecido)


O mundo urge, alguém já deve ter dito isso da mesma forma, no entanto é preciso começar isso por algum caminho que já foi trilhado para que seja de acesso para todos, ou não, pois isso é despretensioso de ser compreensível para o todo, dirijo-me a alguém em especial.

Abram-se os matagais à facões,
precisamos passar.
Necessitamos correr como forasteiros
por entre essas terras já batidas;
semear nosso grão de puberdade
e do chão fazer brotar pequenas revoluções
pois, que são essas que mudaram o mundo.
Mas o mundo urge, e urge porque tem fome
assim como nós temos por lhe desvendar.

A fome move o mundo, é a engrenagem propulsora de produção, o que Marx provavelmente em algum momento de sua enfadonha retórica deve ter citado, mas aqui é que são abertos os matagais e fixadas as placas de “passei por aqui”; é aqui que a vida se torna maior que o fato, e a força inevitavelmente maior que o ato.

sábado, 18 de outubro de 2008

A Infinita Mentira do Ser


IV – O Remorso do Eu


O mundo gira. Não foi preciso que mandassem foguetes carregados de gente para se certificar disso. Eu sabia muito bem que no momento em que se aproximou do outro Eu – primeira rotação – com intenções de revelar que o amava e não fazendo isso – segunda rotação – descobrira que perdera a chance de embarcar numa viagem rumo ao cosmo.

“Aproximei-me com tal zelo
mas com a palavra na boca
quase que sendo cuspida antes mesmo de
lançada.
Os instantes, e as figuras
átomos a átomos contrapunham-se na minha frente
e queria o outro Eu; queria amá-lo,
queria tê-lo como quem tem a uma poltrona barata.
No entanto, resta-me um disco de Edith Piaff,
toco-lhe e ouço alguém suavemente resvalar de sua boca
um ‘não me deixe só’
e eu reciprocamente lhe digo:
‘Nunca!’.”

V – O Retrocesso
Assim sofre Eu sem saber do que o outro Eu pensara dele quando o vira também. Talvez tivessem ambos amando um ao outro naquele instante, mesmo que por influência de Vênus e sua rebuscada beleza. Talvez tivessem se amando e isso seria maravilhoso, mas aí isso não seria um conto, seria Walt Disney e suas princesas branquinhas com lábios vermelhos esperando pelos seus príncipes com suas espadas soerguidas.

Desculpem por não saber o que aconteceu com o outro Eu no momento do encontro entre os dois, o que sei, são meras alusões de possíveis relações e o que eu posso dizer é: o mundo retrocede, e não é preciso que os foguetes voltem a Terra para nos assegurar da nossa infinita mentira do ser.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Infinita Mentira do Ser

III - Maleabilidade do Eu



Eu
sou apenas um portifólio de figuras abortadas
com pretensão de um dia a vir ser
qualquer coisa que
rasteje
trepe
desmorone;
qualquer coisa que
não invente prosa em verso.














terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Infinita Mentira do Ser

I - Características Principais de Eu

Eu, esse é o nome do meu personagem. Poderia lhe nomear de João ou mesmo Maria, mas seria como travestir idéias quando na verdade só sei falar de Eu; Eu que é sempre o protagonista de tudo, que acorda às seis da manhã, mantendo seu trabalho e estudos quase sempre em dia.


Poderia aqui descrever fisicamente Eu, no entanto receio que lhe achem feio por ser magro ou excessivamente gordo; por não ter nascido com os olhos azuis ou verdes que tanto sua mãe pediu enquanto ele estava na barriga.



Eu
sobreposições
cascas
fardas
pele
tato
Eu

II - Estranhamente Narciso

Estranho o homem cotemporâneo, pensa Eu, morre de paixões por dentro mas precisa se mater inabalável e inconfesso para que o seu amor pense que ele não está em suas mãos.

Outro dia, Eu conheceu um outro Eu, bonito, com os olhos claros que tanto a mãe pediu que Deus lhe desse, e logo fall in love, ou melhor, se apaixonou. Eu viu no outro Eu o que nele não faltava e isso o deixava extremamente satisfeito, como aquela lenda de que Deus viu que a mulher era bom, e assim Deus a retirou da costela de Adão, ou ao contrário, lembra?

Eu se aproxima do outro Eu, e assim foi feito o sonho grego:

Eu
Te amo Eu
Eu não pode saber
Eu consome-se
e precisa esconder

continua...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

I Rturned Again III

Estou sentado novamente defronte a esta tela branca que o Word mostra, tentando justificar aos leitores a minha existência, e os mesmos tentando encontrar em mim um ponto de fuga onde as linhas acabarão por divergir completamente.

Acabei de escovar meus dentes, tudo como manda os hábitos da higiene bucal para poder estar aqui relatando alguma coisa que eu ainda não sei, apenas sei que mau hálito traz conseqüências horríveis, desde perca de amigos até o fim de um casamento. Outro dia vi isso acontecer, e foi estarrecedor. É claro que existem milhares de outros fatores que levaram a esse rompimento, mas ouvi da boca da esposa: - Eu falei que você me perderia por não escovar os dentes! Acreditam nisso?

Eu acredito porque vi, senão, é claro, nunca que poria fé em situação tão fútil... bom, eu nunca que casaria com alguém que mantivesse hábitos porcos, principalmente em relação a boca. E os beijos avassaladores como aqueles que vemos nas novelas, como ficariam? É certo que não ficariam, ou melhor, não existiriam.

Tenho tanto medo disso. Sempre sonhei que algum dia viria alguém e me restituiria uma alegria que nunca tive, apenas com um beijo e assim viveria feliz apenas com a idéia mal formada sobre o que é felicidade. Porém constato que é sonho e por isso mesmo divago sobre essa paisagem salvadoresca, a qual suscita o lúdico a criar essas imagens de um rosa berrante, meio Priscila, A Rainha do Deserto.

Então, sempre que possível pego um ônibus e saio com minha trupe para fazer algumas performances. Visto um vestido repleto de lantejoulas e subo no palco como uma rainha com a cara empapada de rímel e pó compacto barato, imitando alguma diva da drag music. Após os aplausos retorno, certamente porque, por algum motivo, sempre acabamos voltando.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

I Returned Again II

Já tentei incinerar todas as minhas roupas, meus discos e as imagens carpideiras de Whistler dependuradas na minha parede. Já quis comprar vasos baratos apenas pelo prazer de arremessá-los e lhes ver sendo estilhaçados como coisa imprópria, imunda e que por isso mesmo catártica. Retrocedi em todos estes meus gestos por que me julguei pouco civilizado.

Talvez por isso retornemos às mesmas velhas coisas, uma saudade de se sentir pertencente a algo que aparentemente não se transformou e todos aqueles planos de catarse ficam arquivados neste rastro de possível explosão.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Casualidade Numa Tarde Qualquer

Já olhei suas fotos milhares de vezes
como que procurando encontrar no seu rosto
a expressão de quem deseja alguma coisa
que ainda não sabe ao certo.


Já vasculhei seus gostos
e os revirei para sacudir a poeira que
debaixo estava.

Correria para encontrá-lo
não porque o amo,
não!

Eu definitivamente não passei a amá-lo
assim repentinamente, no entanto
confirma em mim uma admiração irrefreável
por ti.
Tua imagem sem saberes,
me consome como paixão,
e paixão é fogo-fátuo, assistencialismo:

-Arregace as mangas, guri, e faça algo.
Encarregue-se de ser o seu próprio herói.
Salve-nos dessa pureza.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

I returned again

Eu queria mesmo era escalar uma montanha ou pular de pára-quedas, e fiz isso de acordo com as oportunidades oferecidas; trepei nos muros dos vizinhos com um lençol roxo sobre as costas para depois me jogar dos mesmos, e repeti estes meus gestos por durante meses, como uma criança que assiste milhares de vezes o mesmo chato musical infantil.

Por algum motivo nós acabamos retornando às mesmas coisas, no entanto sob uma nova roupagem, às vezes black tie, às vezes trapo-semafórico, às vezes nu como agora, e confesso que sequer quero tapar meu sexo, quero viver exposto.

Você entende?

Por algum motivo nós acabamos retornando...

sábado, 14 de junho de 2008

PAUSA

Blog temporariamente em pausa.

Volto depois do dia 7 de julho

beijos e abraços

rafa

P.S.: Não costumo pôr textos de outros autores, mas, abro exceção para Adélia Prado, umas das minhas poetisas favoritas.

Leitura

"Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?

Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.”

Adélia Prado em Bagagem

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Série monólogos. Monólogo I

- Sirvam-me, estou pronto. Tirem-me do forno. Enfeitem-me com farofa e cereja. Minha pele fará cleck nos seus - cleck – dentes e então me jogue garganta abaixo, nesse abismo sem fim que é viver.

A vida é ácida.
Quimo.
A vida é básica.
Quilo.
A vida é descarga.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...