quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Infinita Mentira do Ser

III - Maleabilidade do Eu



Eu
sou apenas um portifólio de figuras abortadas
com pretensão de um dia a vir ser
qualquer coisa que
rasteje
trepe
desmorone;
qualquer coisa que
não invente prosa em verso.














terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Infinita Mentira do Ser

I - Características Principais de Eu

Eu, esse é o nome do meu personagem. Poderia lhe nomear de João ou mesmo Maria, mas seria como travestir idéias quando na verdade só sei falar de Eu; Eu que é sempre o protagonista de tudo, que acorda às seis da manhã, mantendo seu trabalho e estudos quase sempre em dia.


Poderia aqui descrever fisicamente Eu, no entanto receio que lhe achem feio por ser magro ou excessivamente gordo; por não ter nascido com os olhos azuis ou verdes que tanto sua mãe pediu enquanto ele estava na barriga.



Eu
sobreposições
cascas
fardas
pele
tato
Eu

II - Estranhamente Narciso

Estranho o homem cotemporâneo, pensa Eu, morre de paixões por dentro mas precisa se mater inabalável e inconfesso para que o seu amor pense que ele não está em suas mãos.

Outro dia, Eu conheceu um outro Eu, bonito, com os olhos claros que tanto a mãe pediu que Deus lhe desse, e logo fall in love, ou melhor, se apaixonou. Eu viu no outro Eu o que nele não faltava e isso o deixava extremamente satisfeito, como aquela lenda de que Deus viu que a mulher era bom, e assim Deus a retirou da costela de Adão, ou ao contrário, lembra?

Eu se aproxima do outro Eu, e assim foi feito o sonho grego:

Eu
Te amo Eu
Eu não pode saber
Eu consome-se
e precisa esconder

continua...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

I Rturned Again III

Estou sentado novamente defronte a esta tela branca que o Word mostra, tentando justificar aos leitores a minha existência, e os mesmos tentando encontrar em mim um ponto de fuga onde as linhas acabarão por divergir completamente.

Acabei de escovar meus dentes, tudo como manda os hábitos da higiene bucal para poder estar aqui relatando alguma coisa que eu ainda não sei, apenas sei que mau hálito traz conseqüências horríveis, desde perca de amigos até o fim de um casamento. Outro dia vi isso acontecer, e foi estarrecedor. É claro que existem milhares de outros fatores que levaram a esse rompimento, mas ouvi da boca da esposa: - Eu falei que você me perderia por não escovar os dentes! Acreditam nisso?

Eu acredito porque vi, senão, é claro, nunca que poria fé em situação tão fútil... bom, eu nunca que casaria com alguém que mantivesse hábitos porcos, principalmente em relação a boca. E os beijos avassaladores como aqueles que vemos nas novelas, como ficariam? É certo que não ficariam, ou melhor, não existiriam.

Tenho tanto medo disso. Sempre sonhei que algum dia viria alguém e me restituiria uma alegria que nunca tive, apenas com um beijo e assim viveria feliz apenas com a idéia mal formada sobre o que é felicidade. Porém constato que é sonho e por isso mesmo divago sobre essa paisagem salvadoresca, a qual suscita o lúdico a criar essas imagens de um rosa berrante, meio Priscila, A Rainha do Deserto.

Então, sempre que possível pego um ônibus e saio com minha trupe para fazer algumas performances. Visto um vestido repleto de lantejoulas e subo no palco como uma rainha com a cara empapada de rímel e pó compacto barato, imitando alguma diva da drag music. Após os aplausos retorno, certamente porque, por algum motivo, sempre acabamos voltando.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

I Returned Again II

Já tentei incinerar todas as minhas roupas, meus discos e as imagens carpideiras de Whistler dependuradas na minha parede. Já quis comprar vasos baratos apenas pelo prazer de arremessá-los e lhes ver sendo estilhaçados como coisa imprópria, imunda e que por isso mesmo catártica. Retrocedi em todos estes meus gestos por que me julguei pouco civilizado.

Talvez por isso retornemos às mesmas velhas coisas, uma saudade de se sentir pertencente a algo que aparentemente não se transformou e todos aqueles planos de catarse ficam arquivados neste rastro de possível explosão.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Casualidade Numa Tarde Qualquer

Já olhei suas fotos milhares de vezes
como que procurando encontrar no seu rosto
a expressão de quem deseja alguma coisa
que ainda não sabe ao certo.


Já vasculhei seus gostos
e os revirei para sacudir a poeira que
debaixo estava.

Correria para encontrá-lo
não porque o amo,
não!

Eu definitivamente não passei a amá-lo
assim repentinamente, no entanto
confirma em mim uma admiração irrefreável
por ti.
Tua imagem sem saberes,
me consome como paixão,
e paixão é fogo-fátuo, assistencialismo:

-Arregace as mangas, guri, e faça algo.
Encarregue-se de ser o seu próprio herói.
Salve-nos dessa pureza.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

I returned again

Eu queria mesmo era escalar uma montanha ou pular de pára-quedas, e fiz isso de acordo com as oportunidades oferecidas; trepei nos muros dos vizinhos com um lençol roxo sobre as costas para depois me jogar dos mesmos, e repeti estes meus gestos por durante meses, como uma criança que assiste milhares de vezes o mesmo chato musical infantil.

Por algum motivo nós acabamos retornando às mesmas coisas, no entanto sob uma nova roupagem, às vezes black tie, às vezes trapo-semafórico, às vezes nu como agora, e confesso que sequer quero tapar meu sexo, quero viver exposto.

Você entende?

Por algum motivo nós acabamos retornando...

sábado, 14 de junho de 2008

PAUSA

Blog temporariamente em pausa.

Volto depois do dia 7 de julho

beijos e abraços

rafa

P.S.: Não costumo pôr textos de outros autores, mas, abro exceção para Adélia Prado, umas das minhas poetisas favoritas.

Leitura

"Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?

Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.”

Adélia Prado em Bagagem

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Série monólogos. Monólogo I

- Sirvam-me, estou pronto. Tirem-me do forno. Enfeitem-me com farofa e cereja. Minha pele fará cleck nos seus - cleck – dentes e então me jogue garganta abaixo, nesse abismo sem fim que é viver.

A vida é ácida.
Quimo.
A vida é básica.
Quilo.
A vida é descarga.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Arte Conceitual = Mente vazia, oficina do Diabo ou O conto da vovozinha



As palavras que se seguem, decorrem de uma repentina e fortuita parada na capacidade de pensar, um estado meditativo que se apossou da mente de nosso ilustre personagem Martinho, cujo, possibilitou-me de invadir sua mente enquanto esta permanecia no vácuo.

Antes, porém, temos que saber o conceito de vácuo; recorramos à física para isso. Vácuo, ausência total de matéria, no entanto pode ser entendido de diversas formas, pois o vácuo absoluto, que realmente é a ausência total de matéria é apenas teórico, existindo assim, a remota possibilidade de existir o vácuo absoluto em alguma galáxia. Dessas coisas de vácuo só entendo de garrafa térmica que mantém meu café quentinho; essas coisas de galáxias e perdições além me intrigam muitíssimo. Ademais, pensamento é matéria?

Levando-se em consideração que pensamentos são impulsos elétricos e que corrente elétrica é composta por elétrons que por sua vez possuem carga negativa e massa irrisória de alguma coisa elevada à outra alguma coisa, então, sim, pensamento é matéria, e que se somarmos veremos que realmente o papo de que de grão em grão a galinha enche o papo, é realmente verídico e irrefutável. Por que adoram nos inculcar com esses ditadinhos? Sempre tem alguém com esses postulados na ponta da língua ou na ponta da mesa que aproveitam o ensejo e despejam a conta para o azarado que se sentou à ponta.

Voltando ao Martinho após todas essas conclusões científicas.

Martinho, homem de coragem, boníssima pessoa e freguês da mesma padaria que freqüento aos sábados pela manhã, foi lá que o conheci. Homem mediano, esguio e com sobrancelhas delgadas sempre pede um pãozinho com ovo “estalado” na manteiga sem sal acompanhado de um café expresso, coisa de elite. Na verdade isso é tudo o que sei.

Na verdade o Martinho nunca existiu; também, nunca vai à padaria todos os sábados pela manhã, e nunca foi tomado por uma brusca estagnação de sua mente. Mas a proposta é boa, e este conto é arte puramente conceitual, onde a idéia inicial é relevantemente superior ao resultado obtido, e por isso precise de uma legenda, aqui vai:

Idéia do conto: E se repentinamente eu parasse de pensar, o que aconteceria?
Leitor, se repentinamente você parasse de pensar, para onde escoaria essas suas monstruosas dúvidas e lembranças?Ficariam guardadas em alguma parte de seu cérebro ou você permitiria que alguém te invadisse e te roubassem-nas?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ah, esses Jovens Sindicalistas




Começo este conto porque já se faz urgente, porque as palavras insinuam fugir, porque inúmeros porquês surgem em simples aberturas de armários, gavetas e roupas entranhadas por naftalina. Partimos daqui.

Inverno de alguma data não muito precisa. Marta levanta-se com o corpo dolorido por ter dormido em posição fetal, mais cansada do que quando se deitou à noite anterior. Faz tempo que ela não sabe o que é ter um sono de verdadeiro relaxamento. Já na cozinha, Marta reacende seu cigarro que mantém escondido na gaveta de talheres, há dois anos que ela adquiriu este hábito de fumar meio à noite e meio de manhã. Toma um gole de guaraná que a esperta, e segue rotina.

Marta possuía apenas vinte e dois anos, fumava há dez; começou por que achava elegante àquelas mulheres de Hollywood que apareciam sempre nos filmes. Fez faculdade de música, e era muito bem sucedida financeiramente. Tocava na orquestra estadual. Não era casada e nem tinha filhos, sempre acreditou que não viera ao mundo para trazer mais gente, povo já tinha demais e o planeta não suportaria mais uma avalanche de novos humaninhos. Morava sozinha, sem nem ao menos um gato para fazer-lhe companhia, e sua vida não era insuportável por todas essas suas não personagens adquiridas pelo tempo, quem sabe isso tivesse algum papel secundário, todavia o que tornava sua vida uma merda era aquela monotonia monocromática que ela tinha que aturar pela manhã.

Então, existe um breve momento, breve, mas que perdura o tempo exato para que tu percebas que deves procurar um novo caminho, revolucionário em essência, que te leves para mundos desconhecidos, românticos, colorido de vermelho de boca de menina nova e sensual ou de vermelho vestido-para-matar e este momento acontece agora.

Marta abre a gaveta de seu guarda-roupa para pegar sua luva. O cheiro de naftalina, bafo de tempo morto conservado a formol, invade-a pela narina e a desestabiliza, por reflexo segura-se para não cair, porém, decide cair, solta em queda livre, pronta para se permitir existir. Momento impasse, passo ou me passa? Opta por passar.

Ela põe seu violão sobre as costas e abandona o violino, maldito instrumento que a conquistou pela estabilidade financeira em uma orquestra. Leva também algumas roupas, pouco dinheiro, iria ser artista de rua, viajar e viajar sem rumo certo, andarilho de praça mostrando o melhor que tem, pelo o mínimo que os transeuntes têm a oferecer, quem sabe um prato de comida, uma parada repentina para ouvir o que ela tinha para tocar e cantar, isso já seria maravilhoso, ter a atenção de alguém nesse mundo que tem pressa de tudo, e se morresse, já morreria feliz.

Tocava desesperadamente, romanticamente, pois estava farta de ser a menina comedida em suas emoções (as pessoas realmente não possuem espelho em casa), de ser guiada por essa arte ultrajante que é o realismo, que nos impele a crer apenas no palpável, no cimento e terra vermelha que é esse chão. Essa ciência que nos impõe certezas, postulados, axiomas e postulados, axiomas como deue piasamos. de omos, que merda,que que de tão coerente nos transborda com mais dúvidas, receios, espasmos musculares, e fortes enxaquecas, dessas dores tipo panela de pressão. Por que não basta existir apenas, pensava ela. Essa foi a segunda vez que foi esbofeteada.

Assim seguira por muitos dias, muitos, mas não suficientes para contabilizar um mês. Sim ela desistiu, jogou a toalha branca e foi cuidar dos ferimentos do marido que voltara da guerra. Não, ela não tinha marido, insisto em lembrar, e a família que antes lhe pertenceu, há muito tempo já havia se desgarrado, quando nova, ainda mais nova que agora, quando contra a vontade de todos fora estudar música.

Estudou música, violino, como já mencionei, se formou, não sem antes vagabundear como calouro, isto inclui festas, porres, beijos e sexo à vontade; noites arregaladas numa esquina rindo-se de qualquer coisa que passasse pela rua. Irá, o leitor, me perguntar o porquê de eu voltar nos tempos de faculdade de Marta se o conto já principia ao fim? A resposta é simples: alguns fatos só nos vêm à mente quando já estamos encerrando, tal qual quando abrimos a boca para dizer a alguém algo importantíssimo e acabamos por esquecer de mencionar, então, antes que me culpem por encobrir algo... lembrei, foi para mostrar esse sindicalismo utópico que Marta sempre sentira correr nas suas veias com tanto ardor, porém que coagula fácil e mata esses sonhos de revolução.

Foi assim com essa vida de moribunda que estava tentando levar, até estava aderindo bem, mas suas costas já doíam por culpa do banco de ripas em que ela se deitava todos os dias que decidiu voltar pra casa. Colchão box de mola, comida-fácil-abre-e-fecha, põe na água e está pronto, quentinha e até apetitosa. Arranjaria desculpas convenientes por seu afastamento no trabalho e estaria tudo solucionado.
Quem sabe uma próxima vez me adapte melhor? Vou limpar aquelas gavetas e pôr um sabonete de lavanda. Que bom pisar nesse tapetinho de liquidação home sweet home, até parece que tenho um lar?! Momento impasse: Passo ou me passa? Translado para dentro, agora sim, home sweet home.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...