terça-feira, 29 de junho de 2010

epigrama 6

epigrama  6

Continuo tentando respirar debaixo d’água;
abrir os olhos no mar salgado sem que os arda;
inspirar cianeto sem que eu morra.

deve haver um jeito
de excluir da boca
a palavra impossível.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Diário de Bordo*

Antes dos vinte anos as coisas eram melhores:
facas cerimoniais picavam dedos de bruxas
num chamamento ao demônio.

Havia alegria:
saía sempre com os bolsos
cheios de grilos.

Mas o que provêm depois dos vinte,
dos vinte anos e um dia, é o banimento;
aos poucos tudo vai sendo jogado fora
como se o paganismo tivesse sido revogado
e a nudez na dança, proibida.

O que sobra é a mecanicidade;
o quebra-cabeça;
a engrenagem seca;
a estranheza que causa vertigem.

Inculca sim que minha história seja velha

O palco é velho
O palco é inóspito
O palco é adulto
Os adultos parecem estranhos
e as enguias quando tiradas do mar,
desligam-se dos sonhos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Monólogo

Depois de assistir aqueles desenhos japoneses em que a disciplina só é obtida através de rigidez e violência livre, sinto sempre uma necessidade incontrolável de levar uma boa surra pra ver se me enquadro, ou como dizem, vê se eu tomo prumo na vida.

Últimas cartas - III, IV

A seguir as duas últimas cartas escritas. Postarei ambas por dois motivos: estou sem internet em casa, o que dificulta manter o blog atualizado sempre; outro, é por revolta mesmo. A ilustração do post virá depois. Outra coisa, obrigado a todos que continuam visitando o |poemarte. Abraços, rafa. 
Carta III



Maturidade é saber lidar com as incertezas.

Carta IV

deve ter sido assim que Mário Quintana foi assassinado pela primeira vez e depois vezes e vezes.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Direito à mentira

Só estou tentando dar pernas longas as minhas mentiras
pra que possam burlar pontes
que se atravessam na frente.
Não quero verdades,
só quero na superfície
a alegria de quem apenas não sabe
e continua vivendo.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...