domingo, 18 de setembro de 2011

poema a 4 mãos

Poema feito por minha amiga Isadora sobre essas coisas da nossa vida.




O futuro bateu na porta do meu coração
Você me diz para não o deixar entrar
Que ele não me merece
Que ele não existe
Mas se só existe a minha imaginação louca
Que desvirtua o mundo
E que me projeta sempre pra onde não estou
Que crie então um personagem, você diz
Esquizofrênicos
Para além de mim
Que pertençam a esses mundos que teço
E o meu eu, clinicamente são
De âmago verdadeiro e inexpugnável
Que se dispense de tudo
E que te ame hoje
E só hoje
Porque senão, vira desespero
E ambos sabemos que somente aos soluços é que se dorme aí

sábado, 17 de setembro de 2011

Uma visão sobre psicanálise


Eu te amo tanto, mas tanto, tanto. E por te amar e não poder te ter, obrigo-me a amar suas coisas. Passo a ler os teus livros da estante, escutar as tuas músicas, vestir as tuas roupas. Na cozinha, divido a carne suculenta em mínimos pedaços, e as desço pela garganta transubstanciando-me nos teus gostos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Perfil - Exibicionismo



Não sou bonito nem feio, disse Thiago Momm no jornal Diário Catarinense numa de suas crônicas, que agora nem me lembro do que se tratava tamanha identificação e comprometimento que passei a ter por sua frase.

Não sou bonito nem feio, nem rico nem pobre, nem tenho sobrenome de gente importante, e quase nunca supero minha mediocridade, e quase sempre a vida se torna muito maior sobrepondo-me seus lugares, pessoas, e prazeres que nunca sentirei. Mas não há nada de triste nisto, e por isso não me intimido em sonhar com o Nobel de literatura – como se houvesse muitas coisas por dizer -, ou o prêmio Pritzker de arquitetura – como se os meus vazios e cheios fossem válidos para humanidade -.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Quero um problema com seu nome


O fim é mais desesperador que o próprio início. Ao mesmo tempo, a mente organiza-se para que haja um fim adequado para todas as histórias. Talvez eu mate um personagem, mesmo sabendo que não é desse jeito que se pode levar a vida com maturidade. Nem sempre os vilões morrem para satisfazer a necessidade careta dos mocinhos. Ah, que ninguém nesse mundo é tão ruim assim. Nem meu pai grosseiro é tão ruim assim, comprovei isso quando ele deu uma segunda chance de emprego ao seu funcionário, que foi demitido por justa causa por tê-lo roubado suas ferramentas. Ah, que nem meu pai é tão ruim assim. Mas você... você também não é tão ruim assim, e bem no fundo da racionalidade, acho explicações convincentes para as mais terríveis coisas que fez comigo, aí, vai ficando oculta de mim a sua imagem. E de repente, vejo-me absurdamente necessitado da sua inundação, da sua presença idiota não sabendo o que fazer para me agradar. Por fim as brigas, o sexo, e a fome desesperada por besteiras.

Escolho a lamentação, ainda que apavorado e recoberto de moralismos. Choro pelos cantos a tempestade alagadiça que tínhamos nos arrabaldes da pele. E quero seus bofetes no rosto. Depois a rosa como pedido de desculpas, porque nem você se aceita pintado de monstro. Quero um problema de verdade. Não pequenos e múltiplos problemas sem nome. Quero um problema com seu nome. Mistério que ainda não revelei. Quero um problema com seu nome ou a sua morte. E fazer valer as palavras do Seu Neruda à Matilde Urrutia. Para voltar a escrever mais poesias que tentativas de conto.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Objeto


Venho tentando dizer algo absurdo,
construir algo absurdo que cause estranhamento, 
mas que nem por isso te lance fora do meu círculo.

domingo, 4 de setembro de 2011

para entender o porquê te deixei quando te possuí por completo sem beijo de despedida


Uma amiga minha se escandalizou quando o comparei com um defunto enredado. Disse a ela que não era renda, era tule aquilo que lhe envolvia. A verdade é que para entender o porquê te deixei quando te possuí por completo sem beijo de despedida, eu preciso dá-lo como morto, como me foram dadas todas as pessoas que amei, embrulhadas num caixão com tule e crisântemos. Talvez ela nunca tenha perdido alguém para a morte, e no beijo de despedida tenha aspirado perfume, parafina e tule. A verdade é que tenho que ir até o nó do corpo do morto para te explicar isso. É que desde que perdi minha avó aos 12 anos, eu nunca mais beijei defunto, nem toco nas mãos persignadas sobre o peito, porque o frio do morto é de uma frigidez inóspita.
 
O caixão estava assentado sobre as tábuas apoiadas nas laterais da cova. O coveiro participando de tudo, mas alheio, apenas esperando a hora de submeter o corpo, depois ir embora. Trabalho é trabalho, só choro pelos meus. No mais, as tristezas carpideiras de sempre. Os familiares para darem seu último adeus. Eu também era parte da família, e hierarquicamente, os filhos foram derramar suas lágrimas. Depois os netos. Eu também era neto. Um por um se foram, com suas lágrimas e seus beijos. Quando chegou a minha vez não queria beijá-la por nada, primeiro pelo medo de me apoiar no caixão e resvalar nas ripas de madeira, e com elas cair também. Depois, as gotas dos que a beijaram reluziam ainda no seu rosto, juntando a isso, a sensação gélida que poderia me enjoar o estômago e vomitar sobre o corpo. Porque me julguei mesquinho, fui contra o que sentia, e pela primeira vez fui falso. Aproximei-me trêmulo, olhei para o rosto plácido dela, no qual os lábios apresentavam-se crispados, atochados para dentro das gengivas. Beijei a face dela. Misto de água, sal e frio inundaram minha boca, e como que engolido por tudo aquilo, não havia minhas lágrimas senão a dos outros, não havia dor senão o terror que desde então me consome quando falece alguém. Depois da minha avó, nunca mais beijei nenhum defunto, nem minhas duas outras tias que morreram posteriormente.

(Não beijarei meus pais?)

Por último, você me pediu um último beijo, e se soubesse dessa história, talvez lembrasse que não beijo defunto há anos, e que isto não é falta de amor ou orgulho ferido, é medo de cair dentro do seu poço mais escuro, e correr o risco de viver para sempre dentro daquilo que se findou.

sábado, 3 de setembro de 2011

Para entender o porquê te deixei quando te possuí por completo


Agora que o vejo como deveria ter visto desde sempre, tenho o nojo que se tem ao sentir as patas do gato, frias e macias, como a pele de um defunto, a lhe pisar o corpo sobre a cama. E confesso que não é medo, mas estranheza tátil de beijar a pele de um morto, principalmente quando antes de sua pele, tem-se a renda com gotas de plástico. As flores de plástico com gotas me dão aflição de unha, vontade de rapá-las dali, de rapá-las a verdade abundantemente encharcada e refringente de suas pétalas. Mas isso só é verdade de longe, de perto é falso de tão plástico. De longe só não é falso o nojo de beijar-lhe a face gélida de morto, de onde ainda reside alimento para ofertar aos pelos da tua barba. E agora a sensação é de que sempre beijei tua barba antes do rosto, como se beija a renda antes da face morta. Como um filtro que não te permite atravessar, para que justamente não te assustes quando possuíres por completo a face. Exatamente para não lhe ter por completo e acabar por vê-lo como não queria vê-lo, e por fim tê-lo que deixar, porque por dentro eu já não conseguiria contê-lo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Teu nome


Sem procurar, acabei descobrindo seu nome e conseqüentemente toda a vida que ele detém. Como se teu nome tivesse me vindo como uma fofoca captada nos corredores, e agora partilhasse de um segredo que nem tu sabias que era um segredo. Segredo que é a tua própria vida distorcida pelas explicações que os outros a dão, que às vezes denotam benevolência demais com as coisas terríveis, sendo que para as coisas boas, dignificam pouco mérito. E até que se revele pela sua própria boca, obrigo-me a guardá-lo, como um segredo que desconheço, para que nas portas do céu, possa me envaidecer diante de Deus e dizer que nunca matei pelas minhas mãos.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...