sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poema Qualquer

Um sopro
na tua boca
inflaria teu mundo
num enorme balão de gás
que alçaria vôo
para além céu além
e entre pássaros te encontrarias
pairando sem asas, declaradamente louco,
e em tua loucura devolverias meu sopro
para subitamente cair, cair, cair, cair, cair...
Preferível, mesmo, é não amar.

domingo, 2 de agosto de 2009

fura o dedo faz um pacto comigo

Mudança de planos e de comportamento, a infinita mentira do ser
começa a se tornar apenas um mero arquivo morto
e pede aos leitores que não morram, eu sei, será difícil... mas controlem-se!
A INFINITA MENTIRA DO SER dá lugar ao Fura o dedo faz um pacto comigo.
Confesso não saber o que mudará, talvez só o nome e o template, mas quiçá seja o ponto de partida para algo completamente novo.

Deixo a todos que leram este blog até hoje o convite para continuarem me visitando no
e um poemeto

Porque só lembro-me de ti
Quando minha mente o nega estranhamente
e já sem recordações.

Transladar

Transporte.

É entre o ir e vir e continuar em outra condição.

Partir é fundamental.
Deixar um arquivo morto,
um portfólio do que já fui.

É quando já não quero nada
mesmo sendo o nada
e sua contraposição do tudo.

Aqui

não cabe nada do que eu não seja hoje.
Poderão vir batidas na porta de amores que um dia se foram.
Hoje sou eu quem parto,
hoje sou eu quem vago.
pois há uma correria pelos corpos
nos quais não comportam datas
ou promessas responsáveis.

Experimento.
Permito-me ao novo
mesmo temendo e denunciando
no semblante da boca,
o medo.

Anuncio
-Partir é fundamental.
Queimar as fotos e mudar de hábitos
embranquecer o luto
e deixar senão o esquecimento do ontem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Epigrama nº 03




Cobrirei teus olhos com promessas de pura luz
e em ti verei tuas pupilas se contraírem
receando a recente descoberta da cegueira.

Restar-te-á meu tato e nele virás te apoiar:
sou tua muleta
teu Jesus
teu mestre
a evasão do teu mal
na redenção do teu caos.

Porque sou teu credo já esquálido
teu deleite em concordata
tua papila não degustada
tua surpresa acobertada pelo tempo
e o universo de possibilidades
para tua salvação.


(...)


Amo seu estado de Asceta.
Esta sua postura arcada
sobre seu próprio umbigo
que parece pronto para mudar o mundo
no simples fato de fechar os olhos
e achar seu eixo nos seus mudrás.

Você, meu Mahatman Gandhi
que me tira o que não tenho
que me põe debaixo desse seu manto encardido.
Mas, se você soubesse que
É bem pouco o que eu quero de você
– e que nesse pouco ainda caberia esses seus jejuns
extenuantes de sexo e comida e esses seus votos
de silêncio, que violentam seu próximo falastrão –
se você soubesse
partiria o teu mundo em dois
uma parte deixaria de resguardo como a uma parturiente,
e a outra, sim, a outra...

- O que faria, baby?

Arremessaria,
porque minha humanidade é limitada
e minha subversão é máxima.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Somatório

Dois para frente
+
Três para trás
=
Retrocesso...

I Returned Again – Parte IV


Whistler - Arranjo em cinza e preto nº 1 , 1872, Museé d'Orsay, Paris.

É um pouco do resto e um grande tanto de
dois para frente e três para trás:
dois punhados de idas e três de vindas.
Uma valsa armada,
dois cavalheiros e três damas;
duas vistas e três piscadas retribuídas.

Sim, só os feios amarão?

Giram o salão e sorriem, porque há uma vida pulsando.
Uma jovialidade inata no rosto dos pares
e o mesmo passo repetitivo.
Dois passos para frente e três para trás,
uma rodada na saia e um estalar de lábios;
dois beijos no rosto e três escapadelas
pelos fundos do salão.

É um pouco do tanto de nada que tenho suspenso em fios:
Lembranças das danças;
do chão de taco envernizado;
das damas em seus vestidos de cetim;
dos cavalheiros e suas camisas sociais ajustadas ao corpo
e dos gestos previsíveis das mãos que de estúpidas
elevam-se aos ares e nele se enchem de ilusórios
fragmentos daquilo que poderia ter sido.

Sim, só os feios amarão?

Na perspectiva que escorre dos quadros
não há retoque para o que se decompôs;
de todas as tentativas foi como ter arremessado
um balde de tintas;
nas mais promissoras
mudei o tom dos brindes dispostos sobre a mesa.
É como se a mãe de Whistler trajasse vestes em rosa
e no rosto espantasse a velhice.

Sim, só os feios amarão?

Algo lhe denuncia que mudou,
já não se repetem mais os passos de valsa
nem se escuta as composições de Tchaicovsky como antes.
Então, sigo nessa marcha de pequenos retornos,
porque, por algum motivo, sempre acabamos voltando.

domingo, 12 de julho de 2009

As Certezas - Parte IV

É aqui que a ampulheta vira
trocando a noite por brechas de
luz.

Algo, sem vontade,
fica para trás e retornar se faz impossível.
Um poema que incitava versos certos,
termina sem fim, inacabado,
e um poema inacabado é como
um poeta que morre e deixa como herança
qualquer linha sem real importância.

Um poema fracasso.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As Certezas - Parte III

O certo mesmo,
é que as certezas são incertas,
casuais e imprevisíveis porque se adiaram
por mais um dia.
Risco no meu calendário
de vermelho,
contabilizo menos um.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

As Certezas II

Pior que a morte,
só a certeza da morte,
a certeza ainda em vida que
não tarda a morte a nos arrancar
este aglomero de pele.

A certeza do passado,
do tempo,
dos dentes de leite,
da menstruação,
da unha,
das pregas,
dos intestinos,
da próstata,
da mama,
da bexiga,
do câncer,
da tristeza,
dos arrependimentos,
dos tapas,
do aborto às idéias,
das dúvidas,
das interrogações,
da dor abrupta de barriga,
do desenlace das mãos para dar fim
à ciranda,
fim à cantiga
sem pedrinhas de brilhante,
sem príncipes
e com meu gato morto à paulada,
e com menos um dia para viver,
porque o relógio já faz prelúdio
à contrição.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

As Certezas - Parte I





Vou comer,
preciso de sal.
Já não suporto mais essas palavras
insossas sobre fundo pardo que é isto.
Isto, que é sujo, impróprio,
indecente; banco de praça de
madeira envernizada, - verniz tênue
como raio e partícula
nessa manhã de segunda.

Largar-me como saca de cimento
ou cal, cinqüenta quilos covardes
para com essas fibras incorpóreas,
delgadas como tripa abdominal,
como novelo que agulhas urdem em meus
órgãos, comprimindo-os:

tenho cólicas com isto.

Cólicas pontiagudas, amiúde estúpidas,
buliçosas; argamassa, rejunte de piso que
espera a prevista dilatação.
Êxtase de só se ser feliz com dor, de só se ser feliz
com faca ou espingarda que rompe
queimando va-ga-ro-sa-men-te,
tão lenta, pois bem sei que é assim
que se morre,

às gotas, aos pinguinhos.

Gotejo todos os dias.
Escôo por meu pênis e ânus;
consinto a partida de pedaços liquefeitos
ou duros como brita.

Morrer é gotejar,
esvair-se em puro descaso,
queimar-se com toco de cigarro,
e deixar que o tempo parta de nós,
que os segundos nos rezem contrições soturnas.

Vou urinar por aqui mesmo
deixar um pouco de mim nisto,
largar meu cheiro como cão demarcando território
escrevendo esta autobiografia fétida cor citrino,
porque fazendo isso, sinto-me menos anêmico,
menos desgastado, menos fadado ao esquecimento,
ao fracasso de nunca ter erigido prédios.

domingo, 3 de maio de 2009

Porque me ler - Parte III

“A nudez é bela, deparar-se com ela é decompor-se. Para o homem não há nada mais inibitório do que ver um corpo exposto e entender que está longe de suas posses.”.

Não entendia por que, mas isso lhe viera à cabeça enquanto voltava para casa num ônibus superlotado com toda a sorte de gente que se podia imaginar. Olhava desconfiado tentando achar naquela situação algum ponto de apoio que lhe fizesse sentido. Analisava os rostos contraídos, a musculatura retesada daqueles que se apoiavam no puta-merda para não ceder aos abalos do veículo; via também o cobrador que repetidamente girava a catraca e contava o troco.

Poderia estar fazendo amizade com esse cobrador, no entanto a primeira aproximação é tão vexatória que preferia bolar diálogos imaginários para não parecer imbecil diante dessas situações que para ele eram as mais estranhas possíveis. Não tinha amigos justamente por isso, porque para se ter um amigo basta se dizer “você é meu amigo”, é como criar laços nunca existentes a primeiro momento, diria que é simplesmente aceitar o próximo como seu amigo antes mesmo deste trocar a primeira palavra cordial de quem lhe conhece hoje.

O cérebro tem dessas coisas, você exprime “eu te amo” e basicamente você passa a acreditar que ama, sendo assim, se houver sintonia entre ambas as partes um namoro pode se firmar em menos de uma semana, o noivado em um mês e o casamento em um ano, do contrário você simplesmente passará por uma desilusão amorosa, dessas que lhe fazem pensar repetidamente na imagem do vilão que não viu suas qualidades e acabou por lhe trair sem o mínimo de compaixão.

Retornava a idéia inicial, o trecho que lera e que persistia intacto. Tentava imaginar todos nus, indo e vindo com seus pênis e vulvas, todos ralhando uns aos outros como se isso fosse normal. Arriscava ir além, e ver seus testículos repousarem no assento. Talvez se estivesse com sua amante, com a promessa do sexo a nudez não seria tão atroz quanto instigava agora. No entanto estava ali, criou o palco onde todos se apresentavam nus e ele o vestido. Não se imaginava sem sua cabeleira ruiva e todos os acessórios que alicerçava um lar para si mesmo, onde poderia respirar sem alteração do fôlego.

Mais uma vez retornamos ao ponto chave: por que se permitia aceitar a nudez de sua amante e sua própria nudez com todos aqueles pentelhos desgrenhados sobre o púbis e negar a nudez dos outros só porque estes não lhe davam a segurança do sexo?

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...