domingo, 4 de janeiro de 2009

Ensaio Inconsciente: a Loucura

Há um quê de loucura em falar sobre a loucura, um quê de “estou beirando, mas não vou cair”, ouvem-se então, ecos de possíveis pequenas loucuras arremessando-se de desfiladeiros.

O meu problema não é essencialmente a loucura, é mais uma base abstrata de strip teases sendo feitos para alguém sentado naquela poltrona, você vê? Ele é tão lindo, ele sorri para mim como um príncipe. Danço para ele, tiro a roupa, ou melhor, rasgo, porque quando se tem paixão, as coisas são mais intensas, feitas para um consumo fugaz e imediato que talvez perdure apenas o instante de um orgasmo, no entanto carrega em si a promessa da realização plena.

E ele esta mordendo o canto da boca e eu continuo nu. Jogo-me para cima dele com um tesão irrefreável e suspiro em seus ouvidos palavras que o excitam a ponto de eu poder sentir toda sua potência máscula pulsando. Eu, eu desfaleço em seus braços, amoleço em seu corpo e me deixo ser escravo e usado como produto promocional que ao ser avistado causa repentina necessidade de ser consumido.

Coloco Álvaro de Campos na jogada, falo do engenheiro civil bicha de Pessoa, sem intenções de intelectualizar isto, pelo contrário, torno ainda mais vulgar e repulsivo.

(Pulo)

Estamos em alto mar, Álvaro em sua compulsiva vontade, deita-se nos porões com seus inúmeros marinheiros...

(Pulo)

Certamente que me fragmento como quebra-cabeça: alguém me emenda?

(Pulo)

... e Álvaro já foi meu puto, meu homem, meu parceiro inconfesso: minha bicha enrustida.

(Pulo)

Retorno e já nem sei de que retorno falo. Pego-me lendo qualquer coisa; o dia a dia é um dissabor. Então, acumulo na estante recortes e cortes e recortes, sobreponho imagens e textos. Pulo. Retorno. Faço sexo, pois que não há realidade suportável sem doses de loucura.

(Pulo)

Eiah Ho, Ho, Ho
Ho, Ho, Ho, Ho.

(Suspiro)

Estou beirando, talvez eu já caí.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Monólogo Parte II - Alguma Coisa

- Alguma coisa. Sei que sou alguma coisa falando sobre outra alguma coisa que só eu sei sentir. Eu poderia verter sobre vocês inúmeras lágrimas e palavras que revestem minhas ações, que mesmo assim, vocês não entenderiam. São coisas minhas. Insisto para que me ouçam como um diário - branco, indefeso, silente.

Estou enfarado, corrompido, fraco. Estou farto, que é pleonasmo, mas em outra sintonia; estou farto desse joguete inútil que é viver, de maquiar-me pela manhã, vestir alguma fantasia e me servir como manjar para esses deuses superdotados de apolo, afrodite e além olimpo.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Atos de 2008 - Potifólio Fotográfico

Esta postagem é uma coleção de fotos tiradas por mim neste ano que se transcorreu; muitas já foram postadas para ilustrar meus textos, outras são inéditas.
Com elas encerro minhas postagens neste ano, que foi para mim repleto de conquistas, alegrias e obviamente tristezas, porque nem só de pão vive o homem.

Um ótimo Ano de 2009 para aqueles que lêem meu blog e toda a sorte para aqueles que já colocam suas pulseiras do Senhor do Bonfim no pulso e saltam na virada as sete benditas ondas da promessa.

Abraços e Beijos

Rafa






Literatura de Mulherzinha ou O que eu preciso lhe dizer

“Me desculpe por eu ser perfeito demais, por ser inteligente, simpático e esteticamente falando bem guarnecido.

Me perdoe também por ter um gosto refinado para as artes em geral, por gostar de gramática e filosofia.

Me perdoe por ser perfeito demais para você.”

Dedico isto aos admiradores tolos, aos mal-me-queres encontrados em algum momento, que por medo ou renuncia a si mesmos, negaram-me sua companhia por mais tempo com a mesma desculpa esfarrapada:

- Você é perfeito demais para mim!

Ok, literatura de mulherzinha, ou o que eu precisava lhe dizer.

The End com uma enorme vontade de soltar um grande foda-se para o mundo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Não sei do futuro e nem do passado, ter conhecimento disso é estar em pleno movimento e o agora é uma ociosidade sem fim.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Uma nova palavra toma meu mundo


Minha voz não é das melhores, mas o que vale é a intenção

Sicromalíaco.
Não sei o que realmente significa,
mas sei,
e isso é como dogma,
que é alguma coisa trespassada de ausência;
um neologismo incompleto que na falta de referência
referencia-se a qualquer coisa,
a qualquer si mesmo,
uma busca inteligível
uma palavra muda que na não expressão
encerra imagens que se vá,
que se vá na fruição do pigmento desprendendo-se da madeira
que se vá como sinal de fax
e que no retorno continue sendo qualquer coisa
que na pronuncia suscite dúvidas, inconstâncias
e um punhado de pó de pólvora no clichê do
rastro de possível explosão.
Que depois se assente
e se recolha no silêncio da pós-possível-explosão
e que não sonhe mais, fazendo-se também cega,
incauta, incognoscível, mas não mais misteriosa.

Epigrama Sicromalíaco

Crio
a tênue capa que cabe melhor
às idéias que nem no sonho encontro.
Trajo-as porque assim ficam mais apresentáveis.
Um palco, uma tenda, um frasco de essência,
A palavra existe por si só
e se manifesta para se livrar da imagem,
porque esta, tem-na sufocado.


Não entenda, apenas
absorva.
Deixe que se esvaeça qualquer
traço, e o que é livre verterá do livro
e quando sentir,
estará mergulhado como Alice
numa poça de tinta.
Nade nela, pois o que é sábio e vivo
você encontrará lá.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Mito do Amor Romântico

Perdoe-me por minha ansiedade;
por essa insegurança que perdura
no gesto em falsete ou na euforia gaga da fala.
Mas é que estou tentando conquistá-lo;
estou tentando me fazer necessário e indispensável na sua vida.
Perdoe-me, não me cansarei de pedir desculpas
mesmo que isso rutile um tanto “ultra-romantismo anacrônico”,
ainda assim, não deixarei que seu tato se recrudesça senão em minhas mãos,
pois, mesmo sem saber,
você já é meu.

Por isso me ame hoje,
ainda que doído,
ainda que estranho
ainda que impróprio,
descubra-me e depois me acoberte,
mas faça isso hoje,
agora,
neste instante, porque as
promessas para o amanhã já se fazem tardias.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Dry, Ansiedade A



A ansiedade amarrou minha boca.
Cortou meus lábios sem sangrá-los.
A ansiedade fumou meu último cigarro
e devorou os restos da minha geladeira,
bebeu do meu Dry Martini e comeu minha azeitona.
A ansiedade fez-me correr de pernas atadas.
Fez-me subir até o último andar do edifício
de vista vertiginosa, para depois me fazer descer.
Fez-me lavar as mãos
obstinadamente.
Fez-me ajoelhar diante de santos e demônios
como se eu acreditasse nessas coisas de imagens
sacras, sacrílegas, acrílicas, argila, Aleijadinho.
A ansiedade fechou minha porta
e enterrou as chaves no cimento fresco,
agora, já seco.
A ansiedade expulsou-me de mim mesmo,
pôs-me desabrigado...
abrigado nesse teto
de azul tempestuoso, que vez ou outra expõe
suas estrelas.


Estou exposto, fraco, deliberadamente mal,
meus joelhos doem, minhas mãos tremem
mais que de costume, e meus pés tropeçam;
Fui, dia desses, a Paris, New York e Bangladesh.
Meus pés tropeçam nas orelhas desse poema.
Também, dia desses, olhei para dentro da janela
e a mesa estava posta, composta, bosta.
Meus lábios tremem querendo romper
com a costura;
minha avó era costureira,
e eu aqui tentando alinhavar lembranças
sem nem ao menos usar dedais.
Estou fraco e minha coluna mantém-se tão rija
quanto uma estátua de mármore perdendo
suas partes para o tempo.


Estou caindo, caindo, cainn...
A ansiedade me empurrou vetorialmente
com direção, sem sentido, compridamente abaixo
num túnel escavado sobre a linha de terra.

Estou caindo, caindo e toca
obsessivamente uma música que conta
sobre fumaça de navios avistados de longe
furos de alfinetes,
uma certa agonia,
um grito putrefazendo-se no ar por vermes,
todavia,
sem mais dores e sofrimentos.

Algumas pedras me acompanham nessa descida.
Pedrinhas como aquelas que aparecem nos filmes
quando o mocinho está prestes a escorregar da beira do abismo,
e vem, obrigatoriamente alguém e lhe puxa pela mão.


Não, eu não sou o mocinho dessa história,
Quem sabe um banal figurante com trajes antigos,
Uma prostituta de milhares de políticos engomados;
Ou, mesmo, um sodomita em filmes para adultos.
talvez um serviçal que marca presença servindo xícaras
de chá para o patrão enquanto este:

-Oh, sim, tratemos disso mais adiante...

sou infelizmente dispensável.

Estou caindo
caindo
caindo

domingo, 26 de outubro de 2008

Ora Pois! ou A Literatura do Lunático


O realismo é tão frio. Sempre me neguei a registrar qualquer palavra que fizesse uma descrição objetiva e clara sobre os fatos, por isso escrevo. Nesse exato momento armo um palco com minha cia. De teatro, visto trajes nos figurantes e ponho nos meus protagonistas uma boa capa de mocinho ou de vilão, classificação esta a ser definida nos próximos atos.
O destino é um livro para cegos, você só entende se o tocar, mas, é fato que as linhas que o destino traça, são grossas e rudes com as mãos de qualquer mocinho ou vilão, pois cada qual possui antecedentes que justificam ou não suas atitudes. Tudo era um imenso talvez, pensava o Mocinho(vilão) nº 1, este que acabara de sair de um trabalho sobre levantamento urbano e já há algum tempo enfrentava a fila da cestinha.
Olhava para todos os lados como que procurando por algo interessante, algo que salte os olhos e se fixe como lente de contato até que chegue sua vez de passar suas compras no caixa. Então como um pedido que ascende ao céu e retorna como um raio a terra, entra em cena o Mocinho(Vilão) nº 2 sorrindo com sua amiga.
O problema é esse, o Mocinho número dois; eu não sei nada sobre ele, mas sei que quando o olhei e vi aquele sorriso e seus óculos, decidi olhá-lo mais, observá-lo de cima abaixo, mirá-lo e captar as mensagens que eram passadas por seu corpo, pela sua fala. E o carreguei em mim para fora do mercado.
Alguns dias depois...

Não, eu não estou apaixonado, ele é apenas um estranho e isso me lembra Closer, onde paixões ao acaso podem existir. Então sim, levando-se em consideração o cinema como um mundo paralelo, o Mocinho nº 1 vê-se apaixonado pelo Mocinho nº 2 e corre infrene para reencontrá-lo.

Mocinho nº 1 põe seu tênis.
Mocinho nº 2 põe seu tênis.
Mocinho n º1 sai de casa.
Mocinho nº 2 sai de casa.
Mocinho nº 1 dobra a esquina e se escora na entrada de uma loja.
Mocinho nº 2 dobra a mesma esquina e passa apressado enfiando o celular no bolso.
Mocinhos cruzam olhares.
Mocinho nº 1 cumprimenta.
Mocinho nº 2 retribui e passa.
Mocinho nº 1 pergunta se não o reconhece.
Mocinho nº2 afirma que reconhece e se desculpa porque está atrasado para pegar o ônibus.

- Arre! Podíamos ter trocado telefones, pensa mocinho nº1.

E os dias vêm se arrastando como nunca para o mocinho nº 1, com altas doses de poemas e chás que segundo a sua avó, que se considera curandeira, lhe receitou. E parece que exatamente agora, nessas últimas linhas que me restam e o desfecho que se inicia agora, inculca que se faça com versos de Cecília:

...

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silencioso,obscuro, disperso.
...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Socialização



Ontem, logo pela manhã, Tchaikovsky e sua Bela Adormecida vieram me visitar. Tomamos um chá com tortas de maçã que a Bela Adormecida trouxe. Foi uma delícia, são duas pessoas agradabilíssimas, educadas e de muito bom gosto, tal qual o meu amigo Iago, aliás, saudades dele. Se alguém o viu, favor lhe mandar lembranças minhas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Você poderia fazer alguma coisa de vez em quando

Venho por meio deste esclarecer algumas situações pendentes. Críticas e proposições seguem abaixo:

Estou exausto de tanta espera que tua boca provinciana propõe. Essa sua paciência em resolver as coisas tem nos tirado inúmeras horas de prazer. Não quero mais essa contagem regressiva que nunca chega a um ponto de transição, as fronteiras se afastam e quanto mais risco os dias no meu calendário o tempo como agente relativo me vira como a uma ampulheta e quando vejo estou de volta com os ouvidos grudados ao telefone lhe ouvindo pedidos de desculpas e cobranças de compreensão.

Entender? Entender quando não há nada a se entender, é extenuar as forças e como já citei anteriormente, estou exausto, meu corpo já sintetizou todo o estoque de carboidratos; estou na reserva e não é nessa sua permanente ociosidade que reporei o que se exauriu.

Dito isto e na espera, como de costume, de resoluções, termino este.

Eu.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...