Escorrego a mão para pegar a cueca, visto-a, faço o mesmo com a calça, a camiseta, o moletom. Levanto-me às seis horas da manhã e ainda está noite, e o mais triste, nunca vejo o nascer do sol. Não dá tempo para abrir o blecaute que cobre toda a janela. O dia já raiou.
Tem granola no café da manhã, iogurte com granola, com suco e pão integral, tem também ricota com banana. Mastigo e penso que engulo carboidratos e proteínas, engulo biologia. Há tempo perdi o paladar para o sabor e adquiri o pudico hábito de devorar lentamente tabelas nutricionais, no mercado mesmo, não compro alimentos, compro informações.
Meto a chave e a giro.
Estou ansioso.
A porta range.
Estou me abrindo.
Estou abrindo o mundo.
Cuspo-me para um novo dia que raiou há alguns minutos atrás, e confesso que tenho abalos, tremo, tenho medo de toda essa extensão que se estende defronte a mim, porque me esfarela, porque estraçalha com o luxo dos véus que revestem este conto de fadas censurando-o às minhas crianças; perco meus ouvintes, os mesmo perdem sua grandeza, e eu sou remetido ao primeiro natal em que o bom velhinho se ausentaria definitivamente da minha vida. Esta foi a primeira vez que fui esbofeteado.
Meto a chave e a giro.
Estou ansioso.
A porta range.
Estou me abrindo.
Estou abrindo o mundo.
Cuspo-me para um novo dia que raiou há alguns minutos atrás, e confesso que tenho abalos, tremo, tenho medo de toda essa extensão que se estende defronte a mim, porque me esfarela, porque estraçalha com o luxo dos véus que revestem este conto de fadas censurando-o às minhas crianças; perco meus ouvintes, os mesmo perdem sua grandeza, e eu sou remetido ao primeiro natal em que o bom velhinho se ausentaria definitivamente da minha vida. Esta foi a primeira vez que fui esbofeteado.
Estou caminhando, aliás, enquanto contava dos meus medos, já estava caminhando em direção aos deveres-cidadão. Proíbo minha mente, veto-a de pensar, mas é em vão, é um hábito que com raízes grossas fixou-se em mim e não me tem feito bem, tem me desgastado, pois me resta apenas dez por cento da visão. Estou caminhando e não consigo enxergar as ruas, as casas, os prédios. Sei onde estão porque fazem sombra sobre minhas sinapses e porque tenho um labrador como animal xamânico, o qual me guia e assegura minha mãe de que seu filho retorne a casa nos fins de tarde ainda vivo.
Já entardece e percebo que mais um dia se passou e que toda aquela ansiedade que me referi era pura esperança travestida, cuja se esvaece como o sol da tarde.
Meto a chave e a giro.
Estou exausto.
A porta range.
Estou me fechando.
Meto a chave e a giro.
Estou exausto.
A porta range.
Estou me fechando.
Estou fechando o mundo.