sábado, 21 de janeiro de 2012

Despertei com o ruído de uma maçã sendo mordida.


Ainda se fossem ovos estalando na frigideira, mesclados a cantoria de alguém que eu levei para casa ontem, não acharia estranho. Eu me levantaria e me depararia com a mesa de café da manhã posta, com flores do campo no arranjo matinal, e não veria outra saída a não ser viver a sua conquista, desejando que fosse para sempre o amor ainda vindouro.

Mas eu despertei ao som da deglutição da maçã. Consegui imaginar até o modo como apoiava os cotovelos na mesa, enquanto uma das mãos segurava a cabeça descaída, e a outra, levava a maçã aos lábios, depois aos dentes, a língua, e na língua me jogava de um lado para o outro até que pensasse ser o suficiente para me engolir. Vi até como sentado na banqueta, mantinha as pernas abertas, (trejeitos masculinos), num azul-samba-canção desarrochado.

É quase como despertar com o silêncio e não saber o que fazer dele, não saber nem porque despertou se a vida parecia estagnada.  Achei de uma delicadeza próxima do absurdo ouvir tão claramente um som quase inaudível. Exatamente igual quando me abraça por trás, respira no meu pescoço, e penso ser o vento invadindo a casa por entre as frestas da porta de entrada, no entanto é apenas você se fazendo audível.

Ingenuidade


Depois de tanto tempo de casados, uma mensagem romântica enviada por engano para o celular de sua esposa, já que o nome da amante vinha posteriormente, salvou a união há muito desgastada. Ela se tornou mais doce, ele mais amável. Ambos reviviam suas ingenuidades. 

Palavrório de três versos


Parece que ao teu lado,
alcanço a graça
dos esfomeados.