Ainda se fossem ovos estalando na frigideira, mesclados a
cantoria de alguém que eu levei para casa ontem, não acharia estranho. Eu me
levantaria e me depararia com a mesa de café da manhã posta, com flores do campo
no arranjo matinal, e não veria outra saída a não ser viver a sua conquista, desejando
que fosse para sempre o amor ainda vindouro.
Mas eu despertei ao som da deglutição da maçã. Consegui imaginar
até o modo como apoiava os cotovelos na mesa, enquanto uma das mãos segurava a
cabeça descaída, e a outra, levava a maçã aos lábios, depois aos dentes, a língua,
e na língua me jogava de um lado para o outro até que pensasse ser o suficiente
para me engolir. Vi até como sentado na banqueta, mantinha as pernas abertas, (trejeitos
masculinos), num azul-samba-canção desarrochado.
É quase como despertar com o silêncio e não saber o que
fazer dele, não saber nem porque despertou se a vida parecia estagnada. Achei de uma delicadeza próxima do absurdo
ouvir tão claramente um som quase inaudível. Exatamente igual quando me abraça
por trás, respira no meu pescoço, e penso ser o vento invadindo a casa por
entre as frestas da porta de entrada, no entanto é apenas você se fazendo audível.