domingo, 20 de dezembro de 2009

Aos meus amores

Aos meus amores
ou
aos meus amores que partem
ou 
aos meus amores que deixei partir

a Felipe João 
minha amis maravilhosa


Se pudesse

me prendia na tua alma
e não partia mais
me ajustava na tua mala
feito calcinha ergarçada
que cinicamente aponta
- sou confortável.
e me ia contigo.

Amigo, mas que buscas loucas,
que se não fosse tu que partisse
noutro tempo seria eu.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Poema Imagem IV - Diário de Bordo




Estou morando em um determinado lugar
com determinadas pessoas,
as quais, ordenam determinadas coisas
antes de submergirem suas redes para o arrastão no mar.

Estou sentado em um determinado banco
num determinado café de esquina
lendo uma determinada revista.

Marulho, marejo, marujo
que trazes do mar?
Uma pedra redonda,
um olho de peixe,
ou enguias eletrificadas de sonhos?

Estou, e estar já é determinar qualquer possibilidade
de começar a ser qualquer determinada outra coisa;
outra coisa que bóie e transborde e exceda.

Não inculca que minha história seja velha,

O palco é novo.
O palco é grande.
O palco é gente.
A gente é nova.
A gente:
são-me estranhas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

História Poética I - Italiano por André Benedet Zilli


Desafiei o André (blog), e aqui está a versão do poema em italiano. Adorei(amei), pois com maestria conseguiu dar ritmo e musicalidade inerente à obra original (em português). André, ficou 
ó t i m o
espero que continue colaborando. Abraço, friend ; )
Marina, la concubina


Nel vibrare dell'aciaio
il tempo frana alla sordina
Nel curvarsi dell'osso
la flessibilità di Marina
Alle sette della mattina si sveglia, senza responsabilità
stira i suoi muscoli, la ragazza,
cerca la gelida acqua nel pozzo
si bagna, ovunque, ferina.
Nel vibrare delle ali
Marina lascia sua casa,
nem cammino sinuoso
piè davanti a piè, pesta in un mondo fallacioso.

Fernando, il pierro

La cappa a terra agitando come le foglie
va Fernando, il pierro italiano.
Con cotte ingenue
eclissando le sue lussurie,
portando i suoi sogni verso le vie.
Si ride si fa allegro nel cammino
transeunte, nella busca del mulino.
La cappa nella strada agitando come le foglie
ai re pedestri inscenando
il Insano-Fernando,
alla lettera amando.

Mulino, è nel cammino

Era stato inattivato il macinare del grano
Avevo ceduto spazio ai atti eroici della passione.
Aveva sospirato per venti forti, era arrivata la concubina
Pierro in ritardo, lei presto non si conterrebbe;
- sa chi ama della fugacità del tempo -.
Dunque, addentra Fernando e cerca Marina,
in devozione sibilante,
in uma destrezza astrattamente
amante.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Série Derrames - Derrames I



Se não te mato de vez

com um só disparo
é por covardia cotidiana.
Matar aos poucos é menos injusto comigo
menos temerário e me justifica
e não me força arrependimentos
quando te morreres de vez.
quando te morreres de vez
fraqueza última e virgem

- saiba, que te matei sempre
  mas a decisão sempre foi sua.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Epigrama nº ...



Tenho uma imensa vontade
de ser um fracasso, de ser um nada
de dar em nada, de largar tudo, de arremessar
esses projetos e croquis na lama.


De afundar as costas numa poltrona
E não levantar senão para mijar.
Sou um embuste faltante de rimas e certezas
mendigando por alguma coisa que eleve
estas pálpebras arroxeadas.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

meia consciência.

Não fico no alto é anti-natural moro com os pés tocando no chão
e me assusto
quando me ponho pra fora e compreendo abismos
de vidro e aço.
Não pretendo criar asas para voar
do contrário,
cresço unhas rasgando terras
arranhando céus

-de baixo germino vermes
 de cima despenco anjos

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Poema Imagem II e Poema - Causa estranha


Causa estranha

Vontade de te por na cama
arriscar encaixe de corpo
acostumar-me a ele
feito forma díspare e refratada em
superfície aquática
porque tu é minha causa estranha
e vem de longe essa minha vontade
de nem te ter através de beijos ou marturbações
de nem te ter avassaladoramente e nem romanceada

Vontade de te por na cama
tentando um amor eterno.

________________________________________________


De A Infinita Mentira do Ser


Estou bastante feliz, participei do concurso de fotografia da UDESC, e ganhei menção honrosa na modalidade colorida com a foto aí de cima, já postei ela aqui no blog no último dia de 2008. Agora é esperar a próxima edição e almejar os primeiros lugares. ;)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

História Poética I























O poema a seguir faz parte de um projeto de livro, ainda inconcluso, de história poética. A moça de cima (abaixo) se chama Marina. Vamos lá.

Marina, a concubina


No fremir do aço
o tempo rui à surdina.
No vergar do osso
a flexibilidade de Marina.
Às sete da manhã acorda, sem endosso
estica seus músculos, a menina,
busca a gélida água no poço
banha-se, então, ferina.
No fremir das asas
Marina deixa sua casa,
no caminho sinuoso
pé ante pé, pisa num mundo falacioso.

Fernando, o pierrô

A capa ao chão farfalhando
lá vai Fernando, o pierrô italiano.
Tem-se em vestes ingênuas
eclipsando suas luxúrias,
carregando seus sonhos pelas ruas.
Ri-se e faz-se alegre no caminho
transeunte, em busca do moinho.
A capa a estrada farfalhando
aos reis pedestres encenando
o Insano-Fernando,
literalmente amando.

Moinho, fica no caminho

Fora desativado a moagem do grão
cedera espaço aos atos heróicos da paixão.
Ansiara por ventania, chegara a concubina.
Pierrô atrasado, ela logo não se conteria;
-sabe quem ama da fugacidade do tempo -.
Então, adentra Fernando e busca Marina,
em devoção sibilante,
numa destreza abstratamente
amante.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mudança

Este é um daqueles poemas  em que me exponho ao máximo; aquele no qual nos colocamos do avesso e o marcamos com toda nossa essência e um pouco de ideologias que só são verdadeiras a nível subjetivo. Este poema feito no primeiro semestre de 2008 continua tendo uma relevância extraordinária para mim.
Mudança


Que me importa que não saibamos cantar em inglês?
Que já são dez horas e está na hora de dormir,
porque a manhã espreita raiar?
Vinde. Estarei preparado.
Saberei guerrear.
Mas só hoje me permitirei sonhar;
bailarei a noite toda e de minha boca
verão proferidas palavras de euforia
que nada mais são que gritos de agonia
sufocados.

Lembro-me agora
das vezes em que me alfinetaram,
pequenos furinhos e arranhões;
nada pude fazer
senão suportar, abafar porque homens não choro;
e não chorava até então.

Porque hoje é o dia,
Dia L, L de freedom
que não nos interessa traduzir;
se insistires, não procures num
dicionário, dou-te este sinônimo que
assim nos cabe melhor:
-I love you.
Pois, que essa é a liberdade.

Então cantarei I love you,
posto que num ritmo adequado,
para todas essas canções que a gente não
entende, advindas daqueles estrangeiros.
Coisa fina.

Que não se esqueça do Milton,
do Miltinho,do Bitu, e tantos outros mais,
que é coisa muito mais fina ainda,
música de alma e que a gente
pode cantar, dançar por dentro, pois, que é o melhor.

E já não sobrepujaremos uma forçada língua estrangeira,
já poderemos dizer eu amo você, que é como
o povo se conversa.

Perpassa como um fio, um lalala
que rima com tatata e é tão bonito.
Pudera eu fixar-me nesse poema,
que abriga como coração quente de amante,
com chá de hortelã, frescorzinho lânguido que escorrega
por essa garganta rouca, louca, frouxa.

Enquanto escrevo, crio
Uma casinha bem aqui, de madeira.
Um chalé, com chaminé e forno à lenha,
Uau! pizza de quatro queijos,
com borda torrada e vinho do porto
dulcíssimo.
Uma luazinha árcade garrada nesse teto de cerâmica.
Agora só faltam as pessoas,
Opa, já estou avistando, elas vêm em gôndolas
e trazem frutas tocadas de afagos,
violas com ar de pé-de-moleque;
unidas trazem consigo, sobrevoando-os,
o poema que busquei do Quintana
durante essa longa noite e não o encontrei,
que na certa alçou vôo para trazê-las, as pessoas,
até mim.
Isso enternece meu corpo.

Sentamo-nos à mesa, é pedir demais uma madrugada
onde o tempo não transcorra como de hábito?
Nem que depois apresse
para acompanhar essa ampulheta de sabão em pó.
Preciso de instantes estáticos, apenas fotos seqüenciais
não bastam, eu quero é fixá-los é na memória, como
cicatrizes.

Nisso tudo me prenderei de mudança, assim como vos contei,
sem nem vírgulas, nem pontos, nem letras a mais.

Saibam que assim será meu descanso;
que tarde em chegar para que muitos poemas prendam-vos
o alento, pois que é meu dever ainda inconcluso,
urdi-vos nessa trama de lã que vos favorece no inverno.

Saibam que nisso tudo descansarei,
e se se adia o repouso abstenho-me da culpa, porque
é a campa que se fecha a passos lentos.

Sem que notasse, contei-vos meu último poema,
li-vos o que está inscrito na minha lápide.
Isso me assusta, essa capacidade mórbida e lúgubre
que preservo em selar um poema, assim morrendo,
degenerando-me, como se houvesse redenção em ser
carcomido num jazigo cimentado.

E que isto que se seguiu é uma arma, cuja, dispara
neste verso que lereis:
paa..

(eco)

Ouvirei o disparo à distância, e o fino ruído do projétil
afiando-se na resistência do ar,
buscando-me além dos percalços,
onde me escondi depois que escrevi isso.

sábado, 31 de outubro de 2009

Teu

T e u

Tomei tua boca, tua língua
teus lábios.

Tomei teus dedos e quis
que adormecessem entranhados nos meus cabelos.

Quis também, que tu me masturbasse
e me fizesse gozar.

Tomei teu corpo e o expus,
tu me deste teu espírito e eu o prendi.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Interjeição

Ih


Onomatopéia de espanto
Susto
Grito sustido nos dentes
Versos de efeito
Código de morte
Ávida fome de assombração
Velado gemido
Enrustido arrepio trespassado pelo meio das pernas
Desejo de palavra
Desejo repetido de palavra
Fome de corpo na palavra
Fome do ausente na palavra
Fome de graça
pois que cada palavra é
súplica
tréplica
pois que cada palavra é
réplica divina.
______________________________

Quero agradecer a todos que visitam meu blog em especial à Thalita Carvalho do blog Quarto Índigo, que me indicou como sendo um blog amigo. É justamente pelo carinho de vocês, pelos comentários de admiração e a simples "passadinha" de vocês que me estimula e faz crer que estou no caminho certo.

Beijos e Abraços

Rafa ; )

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Identidade

Identidade


I

Meu nome foi se fazendo antes de anteontem
e antes de anteontem já era o hoje o parto silabado
de vórtices vociferados de vulgares verdades.

- nascia uma proposição.

Meu nome foi se fazendo ontem
e antes de anteontem já se havia passado
eras e eras de improfícuo espanto
nas asas daquilo que chamariam de avião.

- máquina lampejada de turbinas fluorescentes rasgando céus
que hoje lhe conferem características poéticas de liberdade.

Meu nome foi se fazendo ontem
e antes de ontem já vislumbrava
em pequenas refrações uma possível identidade
saboreada de pluma púmblea prosada de pranto
provada e tendendo ao encanto.

II

Me parti em mistério
metade corpo
metade sonho
na metade da metade
era espanto
na outra metade
já nem era tanto.

III

Que seja o terceiro
antes de vir o quarto
que preceda o quinto
e no quinto se complete
sem mais fomes
nem loquazes provações
de identidade.

IV

Aquele que se expõe
carregando no corpo
vontades que já nascem mortas,
mas que antes mortas
que nunca expostas.

V

Me parti em mistério
metade corpo
metade sonho
na metade da metade
era espanto
na outra metade
já nem era tanto.

____________________________

Confira também o artigo: Poesia e Imagem, o qual relaciona a poesia com publicidade.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um pouquinho além


Um pouquinho além

Um pouquinho além
já seria muito além
como transpor a distância incauta
ou o fim da sempre sabida.

Um pouquinho além
já lhe daria direito
ao reinvento.

Faria do plácido feito
um eterno desespero
do segundo encontro
idas de retorno
do último beijo
o aceno de longe
e do próximo passo
a decisão:

-Viver é sempre um risco
evitá-lo é tolice.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Camisa de Força

O que me tem acometido culpa
é essa cópula contundente
com fresco marejo matinal;
lençóis puídos por barbas a fazer.
Ah, insanidade homeopática,
retesa meus músculos
irriga-os com pequeninas gotas,
letra por letra,
folha por folha,
e a cura paraninfa
se fará presente.
___________________________
do livro - Clique, ato, poema...
Rafael Costa

sábado, 3 de outubro de 2009

Epigrama nº 04



Não tenho problemas em usar salmos da Bíblia
nem se fosse o Alcorão, o Gitã, o giro Sufi
ou o Kama Sutra
Porque se for para te amar
Amar-te-ei sem credo.

domingo, 27 de setembro de 2009







II

Porque me aliciava as suas palavras como a um exército empunhando bandeiras. Abríamos pântanos e brejos, cheirávamos a lodo. Resumíamo-nos na confissão de um amor sujo que sobre o piso contata e assenta.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

.fura o dedo faz um pacto comigo - artigos

Quando surge a necessidade,
fazemos por onde,
criamos.

O Blog .fura o dedo faz um pacto comigo pretende ir além, para isso surgiu a necessidade de criar mais uma página (blog), no qual pudesse postar artigos acerca de observações feitas por mim no campo da poesia, sua construção estética e afins.

a poesia ainda pode libertar os escravos

Espero que gostem.

Link para o artigo:

terça-feira, 25 de agosto de 2009


I
Rendia-se ao sofá desbotado numa espécie de auto-indulgência, amarrava prazeres. Compôs, resvalando sobre o púbis, a promessa do toque que justificasse o gozo. Lambia-se os lábios e nos olhos se via refletir o brilho amalgamado de ardores, vislumbres e pequenos delírios.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Um por sessenta, por mil

Eu só preciso de um segundo,
desses que são divididos por mil,
que perduram o abraço, o beijo, a reza.
Um segundo que em cada milésimo
houvesse a infinidade de tudo o que é
limítrofe em nossas vidas tão fissionadas.
O segundo que minha’lma busca
na brevidade de uma pausa consentida
por um enredo-amigo sabido:

-Não fales, nem gesticules,
poupe-nos o segundo,
registremos apenas o
instante,

a
s
s
i
m
pendentes.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Poema Qualquer – II

a H.
- bonito, mas tem preferências erradas.
Constrói castelos, é mais gostoso.

Uma pedra arremessada
no céu da boca
eclodiria em castelos do avesso.
Sem saber, vendaria teus olhos
e o faria subir a torre mais elevada
para como num beijo
repousar sobre minha língua.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poema Qualquer

Um sopro
na tua boca
inflaria teu mundo
num enorme balão de gás
que alçaria vôo
para além céu além
e entre pássaros te encontrarias
pairando sem asas, declaradamente louco,
e em tua loucura devolverias meu sopro
para subitamente cair, cair, cair, cair, cair...
Preferível, mesmo, é não amar.

domingo, 2 de agosto de 2009

fura o dedo faz um pacto comigo

Mudança de planos e de comportamento, a infinita mentira do ser
começa a se tornar apenas um mero arquivo morto
e pede aos leitores que não morram, eu sei, será difícil... mas controlem-se!
A INFINITA MENTIRA DO SER dá lugar ao Fura o dedo faz um pacto comigo.
Confesso não saber o que mudará, talvez só o nome e o template, mas quiçá seja o ponto de partida para algo completamente novo.

Deixo a todos que leram este blog até hoje o convite para continuarem me visitando no
e um poemeto

Porque só lembro-me de ti
Quando minha mente o nega estranhamente
e já sem recordações.

Transladar

Transporte.

É entre o ir e vir e continuar em outra condição.

Partir é fundamental.
Deixar um arquivo morto,
um portfólio do que já fui.

É quando já não quero nada
mesmo sendo o nada
e sua contraposição do tudo.

Aqui

não cabe nada do que eu não seja hoje.
Poderão vir batidas na porta de amores que um dia se foram.
Hoje sou eu quem parto,
hoje sou eu quem vago.
pois há uma correria pelos corpos
nos quais não comportam datas
ou promessas responsáveis.

Experimento.
Permito-me ao novo
mesmo temendo e denunciando
no semblante da boca,
o medo.

Anuncio
-Partir é fundamental.
Queimar as fotos e mudar de hábitos
embranquecer o luto
e deixar senão o esquecimento do ontem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Epigrama nº 03




Cobrirei teus olhos com promessas de pura luz
e em ti verei tuas pupilas se contraírem
receando a recente descoberta da cegueira.

Restar-te-á meu tato e nele virás te apoiar:
sou tua muleta
teu Jesus
teu mestre
a evasão do teu mal
na redenção do teu caos.

Porque sou teu credo já esquálido
teu deleite em concordata
tua papila não degustada
tua surpresa acobertada pelo tempo
e o universo de possibilidades
para tua salvação.


(...)


Amo seu estado de Asceta.
Esta sua postura arcada
sobre seu próprio umbigo
que parece pronto para mudar o mundo
no simples fato de fechar os olhos
e achar seu eixo nos seus mudrás.

Você, meu Mahatman Gandhi
que me tira o que não tenho
que me põe debaixo desse seu manto encardido.
Mas, se você soubesse que
É bem pouco o que eu quero de você
– e que nesse pouco ainda caberia esses seus jejuns
extenuantes de sexo e comida e esses seus votos
de silêncio, que violentam seu próximo falastrão –
se você soubesse
partiria o teu mundo em dois
uma parte deixaria de resguardo como a uma parturiente,
e a outra, sim, a outra...

- O que faria, baby?

Arremessaria,
porque minha humanidade é limitada
e minha subversão é máxima.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Somatório

Dois para frente
+
Três para trás
=
Retrocesso...

I Returned Again – Parte IV


Whistler - Arranjo em cinza e preto nº 1 , 1872, Museé d'Orsay, Paris.

É um pouco do resto e um grande tanto de
dois para frente e três para trás:
dois punhados de idas e três de vindas.
Uma valsa armada,
dois cavalheiros e três damas;
duas vistas e três piscadas retribuídas.

Sim, só os feios amarão?

Giram o salão e sorriem, porque há uma vida pulsando.
Uma jovialidade inata no rosto dos pares
e o mesmo passo repetitivo.
Dois passos para frente e três para trás,
uma rodada na saia e um estalar de lábios;
dois beijos no rosto e três escapadelas
pelos fundos do salão.

É um pouco do tanto de nada que tenho suspenso em fios:
Lembranças das danças;
do chão de taco envernizado;
das damas em seus vestidos de cetim;
dos cavalheiros e suas camisas sociais ajustadas ao corpo
e dos gestos previsíveis das mãos que de estúpidas
elevam-se aos ares e nele se enchem de ilusórios
fragmentos daquilo que poderia ter sido.

Sim, só os feios amarão?

Na perspectiva que escorre dos quadros
não há retoque para o que se decompôs;
de todas as tentativas foi como ter arremessado
um balde de tintas;
nas mais promissoras
mudei o tom dos brindes dispostos sobre a mesa.
É como se a mãe de Whistler trajasse vestes em rosa
e no rosto espantasse a velhice.

Sim, só os feios amarão?

Algo lhe denuncia que mudou,
já não se repetem mais os passos de valsa
nem se escuta as composições de Tchaicovsky como antes.
Então, sigo nessa marcha de pequenos retornos,
porque, por algum motivo, sempre acabamos voltando.

domingo, 12 de julho de 2009

As Certezas - Parte IV

É aqui que a ampulheta vira
trocando a noite por brechas de
luz.

Algo, sem vontade,
fica para trás e retornar se faz impossível.
Um poema que incitava versos certos,
termina sem fim, inacabado,
e um poema inacabado é como
um poeta que morre e deixa como herança
qualquer linha sem real importância.

Um poema fracasso.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As Certezas - Parte III

O certo mesmo,
é que as certezas são incertas,
casuais e imprevisíveis porque se adiaram
por mais um dia.
Risco no meu calendário
de vermelho,
contabilizo menos um.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

As Certezas II

Pior que a morte,
só a certeza da morte,
a certeza ainda em vida que
não tarda a morte a nos arrancar
este aglomero de pele.

A certeza do passado,
do tempo,
dos dentes de leite,
da menstruação,
da unha,
das pregas,
dos intestinos,
da próstata,
da mama,
da bexiga,
do câncer,
da tristeza,
dos arrependimentos,
dos tapas,
do aborto às idéias,
das dúvidas,
das interrogações,
da dor abrupta de barriga,
do desenlace das mãos para dar fim
à ciranda,
fim à cantiga
sem pedrinhas de brilhante,
sem príncipes
e com meu gato morto à paulada,
e com menos um dia para viver,
porque o relógio já faz prelúdio
à contrição.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

As Certezas - Parte I





Vou comer,
preciso de sal.
Já não suporto mais essas palavras
insossas sobre fundo pardo que é isto.
Isto, que é sujo, impróprio,
indecente; banco de praça de
madeira envernizada, - verniz tênue
como raio e partícula
nessa manhã de segunda.

Largar-me como saca de cimento
ou cal, cinqüenta quilos covardes
para com essas fibras incorpóreas,
delgadas como tripa abdominal,
como novelo que agulhas urdem em meus
órgãos, comprimindo-os:

tenho cólicas com isto.

Cólicas pontiagudas, amiúde estúpidas,
buliçosas; argamassa, rejunte de piso que
espera a prevista dilatação.
Êxtase de só se ser feliz com dor, de só se ser feliz
com faca ou espingarda que rompe
queimando va-ga-ro-sa-men-te,
tão lenta, pois bem sei que é assim
que se morre,

às gotas, aos pinguinhos.

Gotejo todos os dias.
Escôo por meu pênis e ânus;
consinto a partida de pedaços liquefeitos
ou duros como brita.

Morrer é gotejar,
esvair-se em puro descaso,
queimar-se com toco de cigarro,
e deixar que o tempo parta de nós,
que os segundos nos rezem contrições soturnas.

Vou urinar por aqui mesmo
deixar um pouco de mim nisto,
largar meu cheiro como cão demarcando território
escrevendo esta autobiografia fétida cor citrino,
porque fazendo isso, sinto-me menos anêmico,
menos desgastado, menos fadado ao esquecimento,
ao fracasso de nunca ter erigido prédios.

domingo, 3 de maio de 2009

Porque me ler - Parte III

“A nudez é bela, deparar-se com ela é decompor-se. Para o homem não há nada mais inibitório do que ver um corpo exposto e entender que está longe de suas posses.”.

Não entendia por que, mas isso lhe viera à cabeça enquanto voltava para casa num ônibus superlotado com toda a sorte de gente que se podia imaginar. Olhava desconfiado tentando achar naquela situação algum ponto de apoio que lhe fizesse sentido. Analisava os rostos contraídos, a musculatura retesada daqueles que se apoiavam no puta-merda para não ceder aos abalos do veículo; via também o cobrador que repetidamente girava a catraca e contava o troco.

Poderia estar fazendo amizade com esse cobrador, no entanto a primeira aproximação é tão vexatória que preferia bolar diálogos imaginários para não parecer imbecil diante dessas situações que para ele eram as mais estranhas possíveis. Não tinha amigos justamente por isso, porque para se ter um amigo basta se dizer “você é meu amigo”, é como criar laços nunca existentes a primeiro momento, diria que é simplesmente aceitar o próximo como seu amigo antes mesmo deste trocar a primeira palavra cordial de quem lhe conhece hoje.

O cérebro tem dessas coisas, você exprime “eu te amo” e basicamente você passa a acreditar que ama, sendo assim, se houver sintonia entre ambas as partes um namoro pode se firmar em menos de uma semana, o noivado em um mês e o casamento em um ano, do contrário você simplesmente passará por uma desilusão amorosa, dessas que lhe fazem pensar repetidamente na imagem do vilão que não viu suas qualidades e acabou por lhe trair sem o mínimo de compaixão.

Retornava a idéia inicial, o trecho que lera e que persistia intacto. Tentava imaginar todos nus, indo e vindo com seus pênis e vulvas, todos ralhando uns aos outros como se isso fosse normal. Arriscava ir além, e ver seus testículos repousarem no assento. Talvez se estivesse com sua amante, com a promessa do sexo a nudez não seria tão atroz quanto instigava agora. No entanto estava ali, criou o palco onde todos se apresentavam nus e ele o vestido. Não se imaginava sem sua cabeleira ruiva e todos os acessórios que alicerçava um lar para si mesmo, onde poderia respirar sem alteração do fôlego.

Mais uma vez retornamos ao ponto chave: por que se permitia aceitar a nudez de sua amante e sua própria nudez com todos aqueles pentelhos desgrenhados sobre o púbis e negar a nudez dos outros só porque estes não lhe davam a segurança do sexo?

sábado, 25 de abril de 2009

Promessa de Início

Estou cansado
isso já se faz há anos.

Alguém,
por favor me despedaça
ou me despedaçarei sozinho!

terça-feira, 31 de março de 2009

Porque me ler - Parte II


É incompreensível essa sua escrita, no entanto, mesmo assim existe algo que me faz continuar percorrendo essas páginas afoito para saber o que você tem a dizer, como aquele seu personagem ruivo que quando lê a palavra respirar decide assim, inflar seus pulmões até o limite; uma espécie de “faça o que seu mestre mandar”.

Faço o mesmo. Inflo meus pulmões. Passo a mão no cabelo. Como com os dedos. Sou também aquele que se indaga e chora; sou a vítima e também o homicida.

Recordo agora de suas perguntas enrustidas na cabeleira ruiva. Óbvio: de quê nos interessa saber o que é o câncer quando não se têm câncer? É a mesma coisa que acreditar que Nero pôs fogo em Roma ou que os jardins da Babilônia realmente foram suspensos. A subjetividade domina o mundo, mesmo quando a moda era estar com os pés firmes no chão.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Megalomaníacos

Não ter consciência do que se faz, não justifica isenção de impostos. Pelo contrário, na minha megalomania estes serão os primeiros a serem mortos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Megalomaníacos - Primeira parte (talvez única)

Juntos a mesa redonda, dois amigos conversam sobre suas aspirações em mudar o mundo.

Alto chanceler, começamos por onde?

Matando!

Isso eu sei. Mas começamos por quem?

Primeiro: a putinha.
Segundo: as perdidas.
Terceiro: os que perdem tempo.

E...

Depois o resto. E ah, o resto que se foda no ralador de queijo!


Continuaaaaaaaaaaaa!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Cicugota

Sonho
que entrarás por
aquela porta para me saquear
de mim mesmo.

Sonho
e já transpusestes a porta,
vestia qualquer coisa que lembrasse
um homem, ergueu-me, e que músculos...
um músculo faz falta, um músculo fálico
refletido possesso de gozo seminiferamente
sêmen a escorrer no canto da boca

a escorrer por entre as coxas até os joelhos
até os pés, como que se lavando por inteiro
de um rutilante prazer sintético;
como que se embebendo poro a poro
em cicuta-chilocaínica do velho xamã da tribo
vizinha.

Sonho
e sonhar já me basta.
Sonho
e sonhar já me encharca.
Sonho
e sonhar já é fugir.
Sonho
e sonhar já é gozar

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Porque me ler - Parte I


I



Porque me ler. Não, vou criar outro título, este não me tem inspirado a desenvolver idéias. Que tal, Por que as pessoas morrem de câncer? Não, piegas demais. Talvez intitule de “Poética”, contudo isso não é poema mesmo que beire a abstração. Na verdade é mais um “porquê de escrever”.

Como aquele meu personagem de cabeleira ruiva, ainda sem nome, que mesmo não compreendendo como as palavras se engendram num livro, vai à biblioteca pública de sua cidade, senta-se, folheia do clássico ao contemporâneo, no entanto são apenas possibilidades, pois que ele só entende quando se depara com a palavra respirar, então numa cadência quase inaudível infla seus pulmões ao limite e então exala aliviado sabendo que de tudo o que lera, algo lhe havia entranhado como fumaça de cigarro e daquele cheiro não esqueceria.

Esse ruivinho ainda carrega as dores do mundo. Um idiota. Quer porque quer saber o que é câncer. Pena que ele não me pode ler, senão lhe diria que é inútil conhecer, é como tentar saber o que é a fome quando se tem a disposição guloseimas na dispensa, ou então, passar um fato como verdadeiro ao próximo só porque leu em algum livro que o homem foi à lua; tornando a idéia um pouco mais acessível, a história do mundo ou do seu vizinho é indiferente, ela nunca existiu. Não nos interessa. O que nos interessa é unicamente o que nos faz ser como somos: é o subjetivo. Ou agora você vai insistir em me convencer que presencia velórios alheios?

Têm coisa melhor que se dar ao luxo vez ou outra? O ruivinho às vezes vai à feira e compra bandejinhas de figos e sente deliciosa cócegas na língua quando a aspereza do mesmo lhe toca. Então morde, mastiga e engole satisfeito, toma um bom chocolate quente e se deita para não pensar em nada, o que expressa uma enorme vontade de viver, de sair do mundo emprestado dos outros e de criar sua própria história.


Já sonhou em ser policial ou mesmo médico, pois assim estaria sendo o herói de alguém, mas já lhe disse: as pessoas que se salvem sozinhas, idiota! Come seu figo e faça o seu.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Os vaticínios da velha Bruxa



Subjeções

Parei abismado:
era a última vez que me veria com

18 anos.

Será que é agora que começo a desenhar no escuro?
ou, definitivamente esqueço toda essa metalinguagem
em têmpera e parto para o salto?

Que salto?

São numerosas as possibilidades de combinações,
de transistores, fios e cabos de fibra óptica...
Onde estava mesmo?
Será que falar de tecnologia é se tornar um pouco velho?

Sinto, e sentir é fato.
Fato é uma cela do envelhecimento
– é o vaticínio da bruxa.



Vaticinações.

1. Queimei-me as pontas dos dedos.
2. Há em mim um desejo libertador de me prender,
de me aceder como se faz a um cigarro
e de ser fumado pelo mais débil cafajeste.
3. Cigarros me excitam.
4. Incenso é fumaça.
5. A contraposição.
6. A dúvida.
7. A simplificação.
8. As inúmeras possibilidades de combinações.
9. Na numerologia, o mais extenso número se converge,
pela soma ou subtração, na primeira dezena.
0. O eterno retorno.

Subjeções

Carrego isto com minhas alegorias
de que nada dizem.
È um carnaval antecipado.
Abre-alas de um tema possivelmente já contado.

(oh, às vezes me detesto!)

Mas, quando parei de frente ao espelho
e me vendo pela última vez assim
reparando as feições,
as expressões de um rosto incompleto de barba nas maçãs do rosto;
do ralo azulado de bigode...
tive um choque, um vaticínio:

(oh, às vezes a bruxa em mim me detesta!)

o aqui-e-agora transfigurava-se no que já havia sido
e ao mesmo tempo preconizava um depois que agora já era imediato, pois
que o muito além não existe.

(oh, às vezes eu detesto a bruxa que está em mim!)

Desculpem-me os que prezam pela jovialidade mental
mas acredito na construção do tempo,
de como o tic antecede o tac
seguindo um ao outro numa sucessão perpétua,
e nisto avisto o compromisso de ter de me tornar velho,
um pouco encarquilhado para a direita
com a pele quebradiça e as bolsas dos olhos
caiadas e volumosas.

oh, às vezes a Bruxa me controla!

Vaticinações

Se me fosse pedido que me apresentasse,
trajaria meus trapos e subiria numa vassoura
para flutuar ao lado da sua janela lhe narrando
o meu conchavo com o Demônio;
do pacto firmado ainda jovem.

(oh, às vezes eu detesto ser a Bruxa dele!)

Às vezes eu detesto ter que ser sua médium,
de ter que lhe transcrever em versos...
Agora mesmo, em sua prepotência,
me sorri disfarçadamente, pois sentiu estar no ápice do poema
quando construiu imagens que tiquetaqueiam
sobre olhos volumosos enquanto sua pele quebradiça
lhe avisa que está ficando velho.
Não,
Eu é quem decido qual é o ápice do poema
e isto termina aqui:

se cerro as cortinas,
é porque não há mais nada a ser apresentado.


Epigrama nº4
Pós subjeções e vaticinações


Não recordo exatamente do meu passado,
ele é inexistente.
E tudo que sei é que nunca
fui senão isso que meu espelho mostra.
Tal qual um vilão
utilizando o tempo como maquiador que
põe finas camadas de mágoas homeopáticas
e ao se mirar, o seu reflexo é um estranho
e você nunca mais será o mesmo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um fusca 88 ou qualquer coisa de quatro rodas

Escreverei qualquer coisa agora, como narrar a passagem de um fusca 88 vermelho pela minha rua ao mesmo tempo em que escrevo isto; isto que pode ser qualquer coisa mesmo, porém com uma condição: que você me leia.

Sei pelo barulho que era um fusca 88 e vermelho porque é do meu vizinho - não se preocupem, o escritor aqui não passou a ter epifanias depois que começou isto – ele sempre sai esse horário para buscar sua mulher no trabalho, diria que vivem felizes, possuem um casal de filhos - por um minuto pensei em mentir e dizer que eram de gêmeos, não, me recuso, hoje só o que pode ser verídico é que vou contar.

Meu vizinho também reúne seus amigos nos sábados à noite para comerem aquele belo bife sangrento com a cervejinha nossa de cada dia, gargalham alto, tal como conversam. Aliás, por que estou falando deles? Ah, ok (revelações) o autor disto é pré-intencionado e se desvenda perante o leitor – não sabia como começar!

E lá vamos nós nessa busca do “qualquer coisa”, como diria Fernanda Young em seus romances “ande logo com essa punheta, homem”. Tá, calma, é que as palavras às vezes me são débeis e se escapolem e quando isso acontece o que posso fazer é falar de outra coisa que não da idéia principal do texto; é nesse ponto que invadem esses vizinhos na minha retórica e tomam seus lugares de abre-alas, como agora: alguém bate na minha porta – com licença caro leitor, um minutinho...

... me desculpe, é que sabe como é vida em sociedade, temos que ser maleáveis, nunca sabemos quando vamos precisar –.

Deitei ontem lá pelas onze da noite com uma doída vontade de chorar. Sabe quando seus pulmões receiam a entrada do ar? Pois então, foi assim, não queria sequer o mínimo átomo de oxigênio, tinha medo, estava escuro e Tchaikowsy tocava como plano de fundo para um possível fim trágico, estava certo de que morreria ontem mesmo.

Pronto, a idéia voltou (epifania). È que ao invés de me tornar forte, dia a dia me debilito mais e minha maturidade encerra na de uma criança de 5 anos prestes a largar tudo, sim, desistiria de tudo ontem e hoje também, romperia com essas amizades estranhas, com os laços afetivos e me jogaria mundo além para morrer como um aborígine, o qual quando surge a oportunidade da morte lança-se na floresta, pois já não pode prover mais os frutos que sua comunidade necessita, e isso não é nem um pouco indigente, é apenas cultural.

Ah, me desculpe novamente, estou aqui me lamentando, espere. Ouça. É o vizinho e seu fusca 88 vermelho e sua mulher depois de mais um dia de trabalho. Na certa, queria entender como levar uma vida assim tão rotineira, talvez um pouco mais leve e menos ácida como a que tenho levado. (interjeição) Sim, saquei (nada é por acaso), o que me falta é um fusca 88 vermelho e uma boa mulher de quadris largos para me dar alguns belos filhos? (interjeição) Confesso, tenho inveja de tudo isso, me empresta?

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ensaio Inconsciente: a Loucura

Há um quê de loucura em falar sobre a loucura, um quê de “estou beirando, mas não vou cair”, ouvem-se então, ecos de possíveis pequenas loucuras arremessando-se de desfiladeiros.

O meu problema não é essencialmente a loucura, é mais uma base abstrata de strip teases sendo feitos para alguém sentado naquela poltrona, você vê? Ele é tão lindo, ele sorri para mim como um príncipe. Danço para ele, tiro a roupa, ou melhor, rasgo, porque quando se tem paixão, as coisas são mais intensas, feitas para um consumo fugaz e imediato que talvez perdure apenas o instante de um orgasmo, no entanto carrega em si a promessa da realização plena.

E ele esta mordendo o canto da boca e eu continuo nu. Jogo-me para cima dele com um tesão irrefreável e suspiro em seus ouvidos palavras que o excitam a ponto de eu poder sentir toda sua potência máscula pulsando. Eu, eu desfaleço em seus braços, amoleço em seu corpo e me deixo ser escravo e usado como produto promocional que ao ser avistado causa repentina necessidade de ser consumido.

Coloco Álvaro de Campos na jogada, falo do engenheiro civil bicha de Pessoa, sem intenções de intelectualizar isto, pelo contrário, torno ainda mais vulgar e repulsivo.

(Pulo)

Estamos em alto mar, Álvaro em sua compulsiva vontade, deita-se nos porões com seus inúmeros marinheiros...

(Pulo)

Certamente que me fragmento como quebra-cabeça: alguém me emenda?

(Pulo)

... e Álvaro já foi meu puto, meu homem, meu parceiro inconfesso: minha bicha enrustida.

(Pulo)

Retorno e já nem sei de que retorno falo. Pego-me lendo qualquer coisa; o dia a dia é um dissabor. Então, acumulo na estante recortes e cortes e recortes, sobreponho imagens e textos. Pulo. Retorno. Faço sexo, pois que não há realidade suportável sem doses de loucura.

(Pulo)

Eiah Ho, Ho, Ho
Ho, Ho, Ho, Ho.

(Suspiro)

Estou beirando, talvez eu já caí.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Monólogo Parte II - Alguma Coisa

- Alguma coisa. Sei que sou alguma coisa falando sobre outra alguma coisa que só eu sei sentir. Eu poderia verter sobre vocês inúmeras lágrimas e palavras que revestem minhas ações, que mesmo assim, vocês não entenderiam. São coisas minhas. Insisto para que me ouçam como um diário - branco, indefeso, silente.

Estou enfarado, corrompido, fraco. Estou farto, que é pleonasmo, mas em outra sintonia; estou farto desse joguete inútil que é viver, de maquiar-me pela manhã, vestir alguma fantasia e me servir como manjar para esses deuses superdotados de apolo, afrodite e além olimpo.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...