segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

erastas e eromenos

é o fato de eu pensar muito que me torna frígido e mole. Sim, querido, não é problema no corpo, é na cabeça. O pensamento vem assim, do nada, e me toma de um jeito que nem sei como dar fim. Amolece, entende? Fica tudo molinho, molinho. Bate na porta e não entra. Minha amiga disse que sou um socrático. Sim, meu amor, depois da sua explicação, defini-me como um socrático-brocha. Tem espaço para isso na filosofia contemporânea? É claro que tem, e não. Não tem. O que tem é viagra e cyalis e pó da bruxa no círculo da fertilidade. Para todos os problemas do mundo uma pílula no coração. Ou um vinho quente no coração, cantarolava você, Secos e Molhados, enquanto tomava a taça na mão como microfone. Coisas do seu mundo mais temperado que o meu. 

seus pensamentos encordoados numa composição linear.
o meu,
dodecafônico e sincopado e progressivo
a cabeça num roque-roque roedura de rato
a loucura de Ana Clara
uma poesia miserável
e
brocha

 

em estado de aflição

Sob enlevado sentimento da incerteza, a cabeça atordoa-se.
Pior que a incerteza, só a própria certeza do suposto pior.
E o pior é uma manta de carne intoxicada.
Sonhar, depois de tudo, ainda será necessário?
O corpo e a sua sobrevida sem vida.
Adiantarão os ponteiros da morte,
E todos os meus desejos se darão por terra.

A verdade fragmentada

Inspirado em Jostein Gaarder in Através do Espelho
 
Deus me cobra verdades por todos os lados porque é onipresente. Onipresente não no sentido de um ser mitológico enorme de olhos vigilantes açabarcando a Terra e todos os seus minúsculos viventes, mas sim, onipresente porque se fragmenta no corpo daqueles que me cercam e usa dos seus olhos para me vigiar. Se lhe falto com a verdade, na esquina me espera outro fragmento que a extrai a fórceps, e a multiplica pela boca com outros fragmentos.

É que a verdade tem que nascer
E se estilhaçar e se reunir a outros fragmentos.
Mais do que o homem,
é
Deus que busca a unidade.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...