quinta-feira, 4 de abril de 2013

A do vestido rosa com bolinhas brancas

Parece que do nada a vida começou. 10 horas da manhã, carro de som anunciando coisas que não interessam a ninguém. O vento sopra em Laguna/SC farfalhando árvore. A mulher gorda, fala os seus problemas arrotando a necessidade de não sair por baixo, porque, sábia ou não, acredita estar sendo enganada o tempo todo. 

II 

Cabelo vermelho com vestido rosa de bolinha branca. E todos, para ela, uns mentirosos. Parece que sua vida é mais importante do que assistir a novela das nove. Assustei ainda mais quando ela me disse: 

- Vontade de roubar a bicicleta dela, que ela nem iria perceber. 

Logo depois, a bicicleta cai, e por guardar um repúdio tão grande por ela, exclamo: 

- Tais com o “zóio” bom... tá bem acompanhada de santo. 

-Não, ela que deixou mal apoiada a bicicleta. 

III 

Senhor, por que tenho tanto rancor por alguém que não me acha um enganador e se julga minha amiga? Será por que ela é gorda e usa aquele vestido ridículo que na minha casa serviria para cobrir o botijão de gás? Quantos preconceitos trago dentro de mim que põe espinhos na língua. Vontade de lambê-la e rasgar a pele dela, e deixar espinhos no seu clitóris, na boca, nas mãos e nos pés, deixar dias sem caminhar para que se destitua da sua arrogância, e peça ajuda para ir ao banheiro, para limparem seu cu, pois quando suas feridas se fecharem ela saia na rua beijando pés de mendigos, dando abraços gratuitos e pedindo afeto pra desconhecido.

Heartbreak changes people

Punha-se a cortar cebolas e chorar por horas a fio. Quando acabavam as cebolas, guardava em recipientes de plástico e congelava. Deitava-se. O dono do hortifrúti, nos primeiros dias, assim como seus familiares, deteve-se distante com suas opiniões. O verdureiro nunca havia vendido tanta cebola, seus familiares entenderam como uma fase pós-traumática de separação. Ele tinha sido largado pela namorada por um vagabundozinho da faculdade, por isso lhe concediam o direito de sofrer picando cebolas. Com o passar do tempo, tudo começou a parecer extremamente mórbido e constrangedor. Voltava da feira com sacolas de cebolas para picar e réstias de cebola envoltas no pescoço. Logo já não havia mais lugares nas paredes que não tivessem réstias penduradas. As roupas, desde os cobertores às roupas íntimas, estavam impregnadas do cheiro. Sua mãe praguejava, mas mantinha o humor temerário, gritando: meu filho, aqui em casa não criamos vampiros! Até sorria espremido em lágrimas, continuando seu ofício. O verdureiro, certa vez, deu uma sugestão: meu filho, porque não leva tomates e faz um bom molho ao sugo para comer nhoque no dia 29, traz muita prosperidade, sabia? Jogou um olhar esnobe, pagou pelas cebolas e voltou a cortar cebolas. Sua vida resumiu-se a isso, e cada dia tornava-se mais íntimo das cebolas, mais íntimo do seu abandono, mais próximo de parar de chorar. Tinha se resolvido. No fim, viajou o mundo, fez cursos de culinária, tornou-se reconhecido mestre de cozinha. Achou um novo outro amor, e pelo antigo nunca mais sofreu.

terça-feira, 2 de abril de 2013

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...