quinta-feira, 18 de julho de 2013

Uma forma para Otávio

VIII

Na realidade, tenho inveja do passado de Otávio, e do presente e do seu futuro. Ando tão insegura, que se pudesse lhe cortava o pênis, e costurava sua boca para não ouvir mais ele falar das coisas que não dizem respeito a mim. Sinto-me tão egoísta às vezes... mas sei que em algum lugar do mundo, como numa rede de coincidências, alguém remói a mesma mágoa sem dar à face a expressão da dor sentida. Se lhe perguntam, “o que houve?”, responde com um sorriso falsificado de quem por nada passa.

É que Otávio tem me feito sofrer, e muito. Se eu desfaleço, não me junta mais nos braços, não me sustenta em seus músculos, seu amor por mim tem se tornado cruel e feio, o seu olhar, impiedoso como o brilho esmeraldino da mosca que pousa para contaminar o mais belo doce confeitado. Desconfio que Otávio me traia.

 

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