sábado, 25 de fevereiro de 2012

Não, esta é a minha felicidade

Não lembro ter falado muitas coisas, lembro-me apenas de ter levantado da cama, ido até a estante, pegado o CD do Bruce Springsteen e posto para tocar. 

Eu: 

- Ouvia tanto quando era mais novo! 

Ele: 

(...) 

Via-me perscrutando meu passado com a mesma vivacidade que podia imaginar um avião destroçando-se sobre o mar sem me aterrorizar. Pelo contrário, mantinha-me atento a cada instante, afoito pelo o que precederia: redescobri uma parte de mim, senão o todo de mim, e que era momento de reavê-lo. 

A redescoberta é uma das coisas mais catárticas que pode ocorrer àquele que, angustiado, pensava sua existência aniquilada pela falta de alternativas. 

Redescobrir é como ter passado por anos de inanição, e agora sentir-se faminto novamente. Redescobrir é como ter estado enfermo, e do nada reaver-se são como uma criança que ainda não entende nada sobre hipocondria. 

Citando Ana Karenina:

- Desgraçada, eu? – exclamou Ana, aproximando-se dele, fitando-o com um sorriso de amor e exaltação. – Sinto-me como uma esfomeada a quem deram de comer. Talvez tenha frio, talvez esteja esfarrapada e sinta vergonha, mas desgraçada, não. Desgraçada, eu? Não, esta é a minha felicidade.

Um comentário:

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...