sábado, 30 de julho de 2011

Dedicatória

Iridescente teus olhos:
astros feitos de vidro;
pequenas bolicas caramboladas

-Que jurei nunca mais olhar.

Tuas macias bolas:
kiwis aveludados
moldáveis formas

-Que jurei nunca mais pegar. 

Face de traços másculos:
retas quebradas
de ângulos chapados

-Que jurei nunca mais pensar.

Poema de três partes
das tuas partes
Relutantes

-Que jurei não te dedicar.

sábado, 23 de julho de 2011

Objeto de desejo

Estaremos melhores daqui alguns anos. Daqui a dez, quinze, trinta anos. Minto. Daqui à velhice. Estaremos completamente a salvos na velhice. Sem as esperas que nutríamos antes das coisas caírem. Antes que as coisas intentassem o acerto. Na velhice estaremos dispostos a nos contentar com o mínimo, a nos amar pelo mínimo, pela vaidade mínima. A vaidade mínima que nos manterá ainda inteiros de humanidade, de generosidade, de compaixão. Ainda que tenhamos nos desperdiçado por escolhas tolas, na velhice nos perdoaremos de toda a juventude que levamos, até transformaremos o erro casual de termos nos conhecido num acerto oportuno, lotérico, divino. Não sei quanto a você, mas estarei muito melhor daqui alguns anos. Quando a barba cobrir todo o meu rosto, e os outros pêlos estiverem todos ali, embranquecendo-se em suas partes definitivas; aí, serei homem ou outro homem, agora importante para mim. Comprazido das minhas falhas, dos meus acertos, das minhas inconsistências, das minhas impossibilidades. Na velhice que estarei completamente a salvo, e não precisarei ostentar ou reluzir o ouro que nunca possuí; nem ser belo, ou estar dentro do que nunca quis realmente estar. – agora, dia 22 de julho, numa sexta-feira de possível geada, afirmo: tenho esperado a velhice mais que a morte.

terça-feira, 19 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Pouco agora me importa a idade das coisas


Pouco agora me importa a idade das coisas
ou a idade do seu corpo
que ainda divisa entre o jovem-adulto.

Me importa é a idade das suas mágoas
e dos seus sonhos frustrados
que lhe trouxeram até mim.

sábado, 2 de julho de 2011

ego


Interesso-me muito pelo o que os outros dizem,
e pelo o que não dizem, mais ainda.
São sempre uns intrometidos:

Falam do meu bigode que precisa ser raspado
(raspo quando quiser voltar à civilização)

do cabelo fora de ordem
(penteio se houver necessidade)

Das unhas incrustadas em sujeira
(limpo-as antes de cortar os legumes)

E me julgam por tudo
porque me querem melhor do que eu mesmo me quero.

O último me chamou de frio.
Imagine:
eu frio?
Só porque não sei amar de forma arbitrária,
ou me queira deitado com qualquer um,
que isto vá corroborar a idéia.

II

Interesso-me muito pelo o que os outros dizem,
principalmente os amigos.
Ah! Os amigos sempre nos encorajando
com suas próprias ânsias:
“vamos, não tem nada a perder!”
ou
“vamos logo, se dê uma chance”
ou
“daqui a pouco a sua irmã casa, seus pais morrem, e eu, seu amigo,
parto e você fica aí pra titio”.
.
.
.
Mas o que seria de nós sem os bons amigos
e suas baboseiras de motivação?

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...