quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O resto de Drummond


(Primeira parceria poética entre Brunna Cortês e Rafael Geremias)

É que a gente acaba ficando com algum resto...
Eu fico não com os restos de saudade
Mas com os atos-restos que se tornam meus.
Impossível não ser assim:
A gente é muitos em um só
E um só em muitos.

Teu amor é o nada que se torna muito


Teu amor é o nada que se torna muito.
Ato tímido na rispidez fóbica
ao toque dos orifícios do corpo.

Pudico,
diz que prefere com a luz apagada.

Satírico,
gosto de constrangê-lo
com a luz acesa.

Teu amor é o nada que se torna muito


Estou apaixonado pelo nada que você me oferece. Pela falta da palavra afetuosa, do abraço delicado e confortante. De ti, senão a falta, o gesto comedido. A companhia pela companhia. Digestão do tempo. Eu que tantas vezes amei o excesso dos outros, e o que disso poderia extrair.


Então o meu amor freqüentou bares, festas, galerias de arte, cinemas, praças arborizadas, restaurantes, motéis, hotéis, correu o mundo atrás de aventuras inconseqüentes, e quis sempre o choro infantil ou a alegria falastrona. Quis ocupar todos os vazios. Será que precisava disso mais do que agora? Óbvio que não. Esse “precisar indefinido” deixei para mais tarde, junto com a efusividade do sexo, e as discussões calorosas, que outro, não você, me oferecerá num estalar de dedos.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...