domingo, 29 de agosto de 2010


Esqueça a modernidade:
o contemporâneo é orgânico.

Não é preciso que se forjem chegadas e partidas,
nem que se coloque o homem dentro
de máquinas de aço e se precipite o processo:
das mãos surgirá naturalmente
o ser instintivo, àquele,
que de pré-histórico se resignou.
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Poema também publicado no blog de Sylvia Beirute. Sylvia, muito obrigado pelo gesto.



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Na barca dos amantes

Na barca dos amantes
todos chegam atrasados
com pressa de partir.
Por isso navegam disparates
e condenam-se
por erros que nunca existiram
senão porque os queriam.
Para estes apressados,
torço que se afoguem antes
de atracarem num porto seguro.
Pois do meu amor
quero a paciência de remar distâncias
e a eternidade possível
que se pode conter entre as mãos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quando entendia sua fome



põe aspereza sobre meu corpo; põe lixa.
põe também cacos, facas e espinhos.
põe sua fome e me enterre os dentes
que na boca exaltarei meu regalo.

variável

põe aspereza sobre meu corpo; põe lixa.
põe também cacos, facas e espinhos.
põe sua fome e me coma como antes
que exaustos, estatelávamos a boca em regalo.

variável

prefiro que salpique sal com pimenta
do que me destempere.
-bom é quando lhe colocam com fome no prato.


domingo, 22 de agosto de 2010

Puxe para baixo


“Puxe para baixo
Puxe para cima
O que lhe servir,
traga para dentro.
O que restar
jogue para fora.”

Após algum tempo de trabalho termino mais um livro de poemas chamado puxe para baixo, faltam muitos ajustes e também muito empenho na elaboração das ilustrações. Deixo aqui o prólogo e espero que em breve esteja publicando.

Abraço e milhões de agradecimentos àqueles que visitam o blog e principalmente aos meu amigos.




Prólogo


Trafegam nas ruas os mais diversificados meios de transporte. Pelo computador nos comunicamos e temos acesso às mais variadas formas de conhecimento. Visitamos teatros, cinemas, exposições, igrejas e terreiros de candomblé - acreditamos nos comunicar com espíritos-; construímos as mais incríveis obras de engenharia e mecânica; escutamos o popstar do momento e alguns até desbravam o universo numa nave espacial qualquer. Mas no fim continuamos não conseguindo nos localizar e saber pelo que estamos lutando, pois de tudo, o que sobra é o homem, que viaja entre o céu e a terra buscando o contato com a alma através do sonho, mas por ter corpo, restringe-se.

Puxe para baixo faz insurgir de suas páginas esse personagem absurdo, mas completamente possível, perambulando numa busca de extremos, saciando fomes efêmeras e querendo que fossem eternas; desejando e repelindo, crendo e descrendo numa destreza incrível, pois busca entender o porquê desse desajuste entre corpo, consciência e alma.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

As obrigações entre dois

Porque não corresponde eu estranho.
Para que veja
desconfiguro o rosto com trejeitos
enfio as mãos nos bolsos
assento-me

domingo, 1 de agosto de 2010

Alienação poética
ou
Procure outro escritor

Trabalho em cima de afirmações
e deixo o futuro para depois
como tudo aquilo que não me significa.

Com uma enxada numa das mãos,
colho o que me pertence
e deixo passar o resto:
faço da terra meu único espaço;
nela nunca planto ou fecundo nada,
apenas desperto se houver o que despertar:
às vezes estão todos surdos e não imploro que me ouçam,
é uma questão de desencontro.

a minha poesia só entende mais com mais,
mais com menos ou vice-versa é desencontro.


o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...