segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

História Poética II - Espaço



No ponto de partida da dúvida
um espaço que no todo
compreende o espaço,
um tablado onde o teatrólogo
põe suas peças diante do fato.

Há uma rua pela qual caminho
todos os dias, faço-me por merecer
de toda essa quietude que as
persianas abaixadas persistem
em obliterar pequenas loucuras.

Tenho comigo que em algum
dos cômodos têm atores exímios
atuando no ponto de partida da dúvida:
Deixo-a? Fujo? Bato-lhe?
Tomo gim ou uísque? Casa comigo?

E ontem, então, pela fresta vi,

um alcoólatra dar rosas a uma mulher;

algumas damas esperando pelo carnaval
na torre mais alta do moinho;

também, inúmeros palhaços franceses
com narizes de rubro galhofa
apossando-se da pequena cidade
num espírito arrombado.

Todos se cruzam, todos transitam
derrubam pastas, atropelam cães,
e ao acaso dançam no mesmo clube,
só ao acaso bebem no mesmo boteco,
só ao acaso cometem pequenas loucuras.
No embalo, o dramaturgo na sua estréia
como senhor do circo, insiste que
seus palhaços dêem suas cabeças às mandíbulas
leoninas, e num gracejo pedante:

- que comece a brincadeira!

5 comentários:

  1. agradei do ritmo dos versos, principalmente os da penúltima estrofe... ao mesmo tempo musical, ao mesmo tempo narrativo...

    abs.

    ResponderExcluir
  2. Paulo,

    A intenção é essa, o ritmo, musicalidade, o fácil acesso aos versos atrvés do lúdico, mas imersos numa realidade complexa.

    ResponderExcluir
  3. e ai rapaz, que bom que passou pelo meu espaco e comentou. me trouxe ate aqui e me fez curtir demais esse seu ultimo post. so por acaso. completamente musicalizado. ritimo gracejante esse seu. adorei, viu!

    ResponderExcluir
  4. Belo desenho!!
    Adorei a musicalidade do poema, realmente perfeita!
    Como sempre escrevendo tão bem!

    Grande beijo

    ResponderExcluir

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...