quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Buroamor

Buroamor é um poema lá de 2008, pelo menos é como está arquivado na pasta dos meus documentos. Tal como o poema Mudança, este continua sendo muito significativo pra mim. Bom poema.

Não deveria ter dito que te gosto
por que quando disse,
inevitavelmente assumi o compromisso 
em ter que te gostar.

Minha palavra quando proferida
se torna lei, fato, concreto-armado,
e me rendo a ela com devoção,
ajoelho-me diante dela para que
me açoite.

Não deveria ter dito que te quero
por que quando disse,
inevitavelmente assumi o compromisso 
em ter que te querer.

Minha palavra quando proferida
é bem inalienável, vibração mentirosa,
porém, que como ferida de sarampo
adquirida durante a infância, perdura
por toda sua vida, mesmo que porventura 
venha a se ocultar debaixo dos seus pêlos.

Agora, temo dizer que lhe amo,
Temo por que dizendo... 
Temo, e temer é atestar com letras
de imprensa no meio da testa 
que lhe amo, pois segundo minhas
teorias psico-psicanalíticas-de-botequim
temer que determinado sentimento se manifeste
é basicamente afirmar que você já o têm sentindo,
já o têm enraizado, já o têm pendurado na 
sua garganta

e que você quer exteriorizá-lo 
pois que esse segurar-se já lhe
põe dores nas juntas;
pois que esse abster-se já lhe
têm deixado muitas noites acordado,
muitos dias acordado pensando no porvir da noite 
na qual, por mais uma vez, não conseguirá dormir.

Eu o amo
e escuto uma canção em francês,
e passo a amá-lo definitivamente

agora

agora que disse
agora que o momento passou a existir.

10 comentários:

  1. Que belo poema *-*
    De fato, quando só pensamos sem confessar podemos fazer com que seja apenas uma sensação breve, um sentmento momentâneo, uma dúvida.
    Mas quando dizemos, acabamos por afirmar aquilo que outrora foi uma dúvida.
    E ao afirmar, a responsabilidade se torna maior; pois tememos estragar tudo com uma palavra ou um ato que seja.
    A Palavra é um Dom que traz consigo grandes responsabilidades!

    Bjos bjos =*

    ResponderExcluir
  2. Bem não sei d qual gostar maiiis do poema ou do desenho :o cada vz mlhor

    ResponderExcluir
  3. teus versos nesse poema, trazem bem mais do que um poema de amor precisa trazer... um algo mais desmedido, que é a medida certa de um amor verdadeiro...

    n sei se real ou fictício, mas certamente grandioso...

    abs de domingo,

    bai bai.

    ResponderExcluir
  4. Luiza,

    É só no momento em que dizemos eu te amo que realmente amamos, a palavra dita é confissão e por algum motivo nos levamos a sério demais e trazemos conosco a vontade de não nos trair.

    Beijo, honey!

    ResponderExcluir
  5. Paulo,

    Sim, é bem mais além que um simples poema de amor, o amor nisto é subterfúgio pra se chegar da essência do comprometimento.

    Do comprometimento, só entendo daquele aonde o objeto e o objetivo é unicamente eu.

    abraaaço.

    ResponderExcluir
  6. Que bom poder dizer concreto-armado em português! Se disseres isso em Portugal, quase ninguém vai entender :)

    ResponderExcluir
  7. Sim Pedro, o concreto tem algo de moderno, contemporâneo e carrega todas as verdades e dores dessa época.

    Abraaço. )

    ResponderExcluir
  8. Escrevo poema romantico, amoroso, piega. Porém, odeio quando escrevo esse tipo de poema. Queria ser mais ácido com as palavras.

    ResponderExcluir
  9. Alan,

    Nem sempre é necessário ser ácido, também nem sempre é preciso ser inovador, basta estar na sua essência.

    Alguns são capitalistas e outros socialistas, e nenhum vive sem o outro.

    ResponderExcluir

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...