domingo, 26 de outubro de 2008

Ora Pois! ou A Literatura do Lunático


O realismo é tão frio. Sempre me neguei a registrar qualquer palavra que fizesse uma descrição objetiva e clara sobre os fatos, por isso escrevo. Nesse exato momento armo um palco com minha cia. De teatro, visto trajes nos figurantes e ponho nos meus protagonistas uma boa capa de mocinho ou de vilão, classificação esta a ser definida nos próximos atos.
O destino é um livro para cegos, você só entende se o tocar, mas, é fato que as linhas que o destino traça, são grossas e rudes com as mãos de qualquer mocinho ou vilão, pois cada qual possui antecedentes que justificam ou não suas atitudes. Tudo era um imenso talvez, pensava o Mocinho(vilão) nº 1, este que acabara de sair de um trabalho sobre levantamento urbano e já há algum tempo enfrentava a fila da cestinha.
Olhava para todos os lados como que procurando por algo interessante, algo que salte os olhos e se fixe como lente de contato até que chegue sua vez de passar suas compras no caixa. Então como um pedido que ascende ao céu e retorna como um raio a terra, entra em cena o Mocinho(Vilão) nº 2 sorrindo com sua amiga.
O problema é esse, o Mocinho número dois; eu não sei nada sobre ele, mas sei que quando o olhei e vi aquele sorriso e seus óculos, decidi olhá-lo mais, observá-lo de cima abaixo, mirá-lo e captar as mensagens que eram passadas por seu corpo, pela sua fala. E o carreguei em mim para fora do mercado.
Alguns dias depois...

Não, eu não estou apaixonado, ele é apenas um estranho e isso me lembra Closer, onde paixões ao acaso podem existir. Então sim, levando-se em consideração o cinema como um mundo paralelo, o Mocinho nº 1 vê-se apaixonado pelo Mocinho nº 2 e corre infrene para reencontrá-lo.

Mocinho nº 1 põe seu tênis.
Mocinho nº 2 põe seu tênis.
Mocinho n º1 sai de casa.
Mocinho nº 2 sai de casa.
Mocinho nº 1 dobra a esquina e se escora na entrada de uma loja.
Mocinho nº 2 dobra a mesma esquina e passa apressado enfiando o celular no bolso.
Mocinhos cruzam olhares.
Mocinho nº 1 cumprimenta.
Mocinho nº 2 retribui e passa.
Mocinho nº 1 pergunta se não o reconhece.
Mocinho nº2 afirma que reconhece e se desculpa porque está atrasado para pegar o ônibus.

- Arre! Podíamos ter trocado telefones, pensa mocinho nº1.

E os dias vêm se arrastando como nunca para o mocinho nº 1, com altas doses de poemas e chás que segundo a sua avó, que se considera curandeira, lhe receitou. E parece que exatamente agora, nessas últimas linhas que me restam e o desfecho que se inicia agora, inculca que se faça com versos de Cecília:

...

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silencioso,obscuro, disperso.
...

10 comentários:

  1. Seu post nos leva a pensar e muito sobre as atitudes no dia a dia... instigante!

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  2. Agora imagine quantas e quantas vezes isso acontece na vida das pessoas... Acho que existe um medo generalizado e uma pressão individualista que foge ao controle dos mortais.
    Abraço

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  3. Adoro os seus textos...

    Este em especial me fez pensar muito...

    Beijos !!!

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  4. "O destino é um livro para cegos..." !

    Lao-tsé dizia que caminhávamos de costas para o futuro... que era para ver o passado cada vez mais distante e, mesmo assim, tocá-lo, encará-lo, aprender com ele, vendo-lhe. Já o futuro, este indômito desconhecido, não o vemos. Justo, muito justo... para que possamos tocá-lo apenas com a ponta das asas.

    É preciso delicadeza para viver.

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  5. essas coisas de mocinhos dão tanto o que se queixar >.<
    mas eu gostei do texto. (:
    Boa tarde :*

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  6. o fato é que: Algumas pessoas não tem capacidade ou coragem pra transformar o difícil e impossível em algo facil, simplesmente pelo medo de errar, sendo assim deixa de alcançar o real objetivo da vida que é ser e fazer alguem feliz sem preocupar-se com as críticas da sociedade, esta futil e manipuladora.

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  7. Tens mesmo o dom de escrever. Já pensaste em escrever ficção?

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é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...