sábado, 18 de outubro de 2008

A Infinita Mentira do Ser


IV – O Remorso do Eu


O mundo gira. Não foi preciso que mandassem foguetes carregados de gente para se certificar disso. Eu sabia muito bem que no momento em que se aproximou do outro Eu – primeira rotação – com intenções de revelar que o amava e não fazendo isso – segunda rotação – descobrira que perdera a chance de embarcar numa viagem rumo ao cosmo.

“Aproximei-me com tal zelo
mas com a palavra na boca
quase que sendo cuspida antes mesmo de
lançada.
Os instantes, e as figuras
átomos a átomos contrapunham-se na minha frente
e queria o outro Eu; queria amá-lo,
queria tê-lo como quem tem a uma poltrona barata.
No entanto, resta-me um disco de Edith Piaff,
toco-lhe e ouço alguém suavemente resvalar de sua boca
um ‘não me deixe só’
e eu reciprocamente lhe digo:
‘Nunca!’.”

V – O Retrocesso
Assim sofre Eu sem saber do que o outro Eu pensara dele quando o vira também. Talvez tivessem ambos amando um ao outro naquele instante, mesmo que por influência de Vênus e sua rebuscada beleza. Talvez tivessem se amando e isso seria maravilhoso, mas aí isso não seria um conto, seria Walt Disney e suas princesas branquinhas com lábios vermelhos esperando pelos seus príncipes com suas espadas soerguidas.

Desculpem por não saber o que aconteceu com o outro Eu no momento do encontro entre os dois, o que sei, são meras alusões de possíveis relações e o que eu posso dizer é: o mundo retrocede, e não é preciso que os foguetes voltem a Terra para nos assegurar da nossa infinita mentira do ser.

4 comentários:

  1. queria amá-lo,
    queria tê-lo como quem tem a uma poltrona barata.

    eu tambem queria :(

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  2. A infinita mentira do ser me veste de cima a baixo numa pele contínua. Faz o meu corpo, faz de mim a minha maior mentira. E minto escancaradamente na frente do espelho e insisto em fazer isso todos os dias. Se eu não fosse uma mentira, seria então um outro eu?

    Cabeça fritando com os teus textos!

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  3. Será que todo ser seria uma mentira?

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