sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mochileiro





Algumas perguntas nunca deveriam ser feitas: Quem sou eu? Penso, logo existo? Ela era feliz? Esta última é a que me tem tomado o maior tempo, tomado minhas últimas palavras e meus corridos dias, como alguém consegue formular uma pergunta sem resposta? Por que me proponho nessa busca?

Calcei àquelas botas de borracha que meu pai usa para fechar o portão quando está chovendo, puxei da gaveta àqueles santinhos que todo mundo ganha da sua avó e botei o pé na estrada como muitos fazem quando colocam suas mochilas sobre as costas e seguem em uma lambreta insinuando-se aos outros como conquistadores do mundo ou possíveis homens que sacrificaram seu conforto para viverem uma aventura errante. Minha aventura é uma pergunta, uma resposta, um passado?

Voltando ao instante em que eu coloco o pé (direito) para fora da porta. O primeiro passo sempre é decisivo e também é o que se fixa em nossa pele como tatuagem, uma cicatriz conquistada numa batalha que um dia contará sua história a alguma moça ou rapaz que a veja desnuda. Assim fiz minha primeira de tantas escarificações, agarrei-me a mim mesmo e me marquei com dúvidas, dúvidas não do objetivo, porém da viagem. Qual era o roteiro, com uma foto, - sim, eu tinha uma foto, ela era tão linda, um sorriso encantador e olhos vivos de fome -, poderia pagar ao agente turístico uma passagem para a vida daquela mulher?

O agente, com seu terno habitual, olhou-me muito intrigado e como telefonista de telemarketing, “desculpe, mas nisso não posso te ajudar, tenho outros pacotes que incluem pernoite e um pacote de bolachas de leite em Fernando de Noronha. Senhor, tenha um bom dia.”. Ele deveria estar ganhando para isso, cada qual com suas pilhérias.

Continuei então a busca do passado da moça de olhos famintos, mesmo sem endereço certo, faz tanto tempo, a foto data de duas décadas e que ela está morta sendo que esta última informação não nos importa, o que nos importa é: ela era feliz? Talvez nos importe, quem saiba me vá até o cemitério mais próximo, e estou indo, assim de súbito, como uma laranja podre caindo do pé, fui de maduro. Alguém deve estar pensando, que mochileiro é esse que não sai de sua cidade e sequer dorme em albergue? Respondo-lhe, você me viu pôr alguma mochila sobre as costas? Não, botei as botas e trouxe comigo os santinhos e a foto da moça.

No cemitério, bate-me até um calafrio nos pêlos de lembrar isto, alguém consegue escrever no presente? Parece-me que escrever é lembrar de algo, é possível lembrar no futuro? Deixa pra lá. O zelador, muito simpático por sinal, perguntei-lhe se alguma vez já havia visto àquele rosto em uma das lápides, às vezes sou tão pedante, é lógico que ele afirmou que não e que se tivesse visto não se lembraria, todavia, que eu poderia olhar a ata e procurar pelo período que mais ou menos ela poderia ter vivido e passar o resto do dia buscando o rosto dela. Antes que me esqueça, também sabia o sobrenome dela, o qual, não cito para não incitar ninguém a vestir a minha luta em busca da jovem. Para surpresa minha, nada, nada de nomes, de datas coincidentes e nem de fotos nos túmulos, também, com tão poucas informações como poderia encontrá-la?

Um pequeno retrocesso.

Eu e minha sobrinha de nove anos, sentados na sala em plena quarta-feira à tarde, remexendo nos álbuns de família, cai como que por acaso a foto da moça e minha sobrinha me pergunta.

-Quem é ela?
-Nossa parente.
-Onde ela está?
-Não sei.
-Por quê?
-Ninguém fala dela, dizem que era uma errante e acabou morrendo.
-Ela era feliz?

Agora vejo que nunca parti para nenhuma busca, e que não houve nenhum pequeno retrocesso também, sempre estive aqui sentado junto da minha sobrinha. Como posso saber dessas coisas de felicidade, principalmente aquela que não cabe a mim, é como tentar invadir uma mente através das narinas, você já tentou? Nem sei se sou feliz, não sei o que é realmente felicidade, de todos os momentos de alegria que tive já foram soterrados por essa memória precária que temos, porém das tristezas, estas me lembro, estas ficam grudadas nos olhos que são os mesmo desde o momento em que se formaram no ventre da minha mãe, já os dentes, estes se trocaram e tornaram-se permanentes e os risos se foram com a dentição de leite. Seriam as bolachas de leite que hoje não as suporto?

-Tio, ela era feliz?
-Infelizmente não sei.

Dou-lhe um beijo em sua cabeça e a envolvo para compensar o pouco que sei.

4 comentários:

  1. Oiii
    ah tu sabe q eu adoro teus textos ne?
    agr que eu aprendi a comentar entao tu vai ver q eu sempre veio ler :D
    apesar q os outros eu tb li mais nao tinha visto onde tava o negocio de comentar ;P haushuahsua
    e tu nem sabe to escrevendo pela 2 vez esse comentario pq sem quere apaguei :S
    adoreeeeeei o negocio q vc escreveu,essas tuas historia me fazem fica pensando..adorooooooooooo :D
    ai por mim tu tinha q publica tudo q vc tem...é mto bom :)
    nunca pare,vc tem o dom rapaz :P uashuahsuahusuas
    serio adoreiii,se der me add no orkut
    beijãão :D :*

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  2. sobre as perguntas q naum deveriam ser feitas
    e sempre essas q me faço
    http://mundodepk.blogspot.com/

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  3. ahh.. agora minha internet tá funcionando bem direitinho, vim dar meu comentario.. :)
    adorei o teu texto.. mas só nao entendi uma coisa.. pq a pergunta 'quem sou eu?' nao deveria ser feita? acho q ela deve ser feita sim... mas que não seja uma pergunta sem resposta, como faz a filosofia.. precisamos achar a resposta pra ela.. pelo menos eu acho isso muito importante :)
    bjao!
    teh amanha

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  4. Uow, que blog, que posts, que tudo!
    Eu adorei a forma como você escreve. Seus textos vem regados de uma linguagem simples e chic

    Continue nesse caminho, evoluindo sempre...

    A propósito, eu tenho um blog e escrevo um pouco da minha vida, alguns pensamentos e acho que essa semana vou começar a colocar fragmentos de um livro que estou escrevendo. Quando quiser, passa lá!

    http://eunaomerotulo.blogspot.com/

    Desde já, agradeço e mais uma vez te parabenizo pelo blog! (=

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